Título: Consumo de eletricidade cresceu 6,41% no primeiro semestre
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

O consumo de energia elétrica no primeiro semestre deste ano teve um crescimento médio de 6,41%, bem superior aos 3,5% apurados em igual período de 2004. O desempenho positivo pode ser explicado pelo aumento do uso de eletricidade no setor industrial, cuja atividade se manteve aquecida, apesar dos sinais de acomodação da economia, afirmam analistas. Em São Paulo, por exemplo, o aumento do consumo nessa classe (que representa 44,4% do mercado) havia sido de 5,9% até maio, enquanto o residencial (cuja participação é de 25,2%) avançou 4% e o comercial, 4,2%. O consumo dos estabelecimentos comerciais em São Paulo representa 17,8% do mercado.

Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a carga média de energia no Brasil (o que foi produzido pelas geradoras) ficou em 45.902 megawatts médios (MW), ante 43.137 MW médios no primeiro semestre de 2004. Com o racionamento de energia em 2001, esse número caiu para cerca de 34 mil MW médios por mês.

O pico de consumo no primeiro semestre foi verificado em março, quando o uso de energia bateu recorde no País. Em maio e junho, no entanto, as taxas de crescimento diminuíram na comparação com os primeiros meses do ano, quando foram verificados altas superiores a 7% em relação a 2004.

Mas, segundo técnicos do ONS, essa queda é sazonal, por causa das temperaturas. Até abril, quando o clima é mais quente e o ar condicionado é acionado com maior freqüência, o consumo tende a ser elevado. De maio a julho, a tendência é que o uso da energia diminua e, depois, comece a subir, até atingir o pico em outubro, explicam técnicos do ONS.

Na avaliação de analistas do setor, porém, a desaceleração da economia - já detectada pelo IBGE no primeiro trimestre - deverá afetar o consumo de eletricidade nos próximos meses. "A expectativa é ter crescimento mensal em torno de 4% na classe industrial", prevê o gerente da Delta Comercializadora de energia, Breno Nogueira.

No primeiro semestre, a região que teve as maiores taxas de crescimento foi o Nordeste, com aumentos médios de 9,13%, exatamente por causa das temperaturas elevadas. Em janeiro e fevereiro, por exemplo, o consumo de energia na região foi 12,2% maior que em igual período de 2004.

Mas o sistema Sudeste/Centro-Oeste continua sendo o que mais energia consome. Do total produzido, 61% é usado para abastecer a população das duas regiões. A taxa média de crescimento de consumo, porém, ficou bem abaixo da registrada no Nordeste, em torno de 6%.

O aumento no consumo de energia é uma ótima notícia para as empresas do setor, que viram suas receitas despencarem depois do racionamento de 2001. Para o País, no entanto, pode significar um risco, especialmente se os novos projetos de geração não saírem do papel. Em um ano, segundo o ONS, a carga de energia aumentou quase 3 mil MW médios acima dos números observados em 2004. Isso significa que a sobra de energia decorrente dos novos hábitos dos consumidores no pós-racionamento está cada vez menor.

Segundo especialistas, nesse ritmo de crescimento, se o governo não conseguir destravar os novos empreendimentos, o País poderá novamente ter problemas de oferta de energia a partir de 2008. Segundo dados da Agência Nacional do Setor Elétrico (Aneel), com um crescimento da ordem de 4,5% ao ano, o mercado de energia deverá ultrapassar a casa dos 100 mil MW em 2008. Para isso, a necessidade de investimento é da ordem de R$ 6 bilhões a 7 bilhões por ano.