Título: Faturamento dos produtores de grãos será 35% menor este ano
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Os produtores brasileiros de grãos terão uma queda de 35% em seu faturamento bruto este ano, ante o ano passado, em virtude da valorização cambial e dos problemas climáticos sofridos pela safra, no primeiro semestre - principalmente a seca na Região Sul. Mas as perspectivas futuras são mais otimistas: o País pode superar os Estados Unidos e se tornar o maior produtor mundial de soja em dez anos. Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor.

As projeções foram divulgadas ontem pelo secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ivan Wedekin. Em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), ele informou que o valor bruto da produção de grãos, que engloba as colheitas de arroz, algodão, milho, soja e trigo, será em torno de R$ 48 bilhões em 2005, ante R$ 73 bilhões em 2004. Em 2003, o faturamento bruto girou em torno de R$ 70 bilhões.

"Dessa queda de 35%, podemos dizer que 68% vem da valorização do real." O secretário lembra que a soja é uma commodity, cujo preço é definido basicamente pelo mercado internacional. "O que aconteceu foi que o agricultor comprou safra com o dólar a R$ 3 e está colhendo a R$ 2, estamos enfrentando uma crise agrícola, isso explica o tratoraço", disse, em referência ao protesto de produtores rurais, há duas semanas, em Brasília.

O secretário admitiu que houve lentidão do governo para resolver o problema, e que as ações da União "não foram perfeitamente adequadas para essa tsunami na agricultura".

Porém ele é otimista quando fala do futuro a longo prazo. Em dez anos, o Brasil pode ocupar a primeira posição como principal produtor de soja no mundo, superando os EUA. Segundo ele, nesse período, o cenário de estabilidade macroeconômica do País será completo. "Com isso, o Brasil terá condições de reduzir os juros e fazer investimentos em infra-estrutura. Isso diminuiria muito o custo de distribuição de nossos produtos, reforçando nossa competitividade." Além disso, ressaltou, dentro da fazenda o custo de produção agrícola brasileira é muito mais baixo do que nos EUA.

De acordo com Wedekin, a produção de soja brasileira esse ano deve girar em torno de 50 milhões de toneladas, e a produção dos EUA, em torno de 75 milhões a 80 milhões de toneladas. "Mas o foco da produção agrícola dos Estados Unidos é produzir mais milho, porque eles estão fazendo álcool do milho, já que não têm condições de plantar cana-de-açúcar."

Na palestra, o secretário criticou o nível elevado de juros no Brasil, e sua influência negativa no desenvolvimento dos agronegócios do País. Wedekin afirmou que há cada vez menos dinheiro para a execução de política agrícola no Brasil. "Parece que a prioridade número um do Brasil é pagar juros."