Título: Amorim fica otimista com Bush
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

As declarações do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de que seu país está preparado para eliminar os subsídios agrícolas até 2010 - desde que a União Européia (UE) adote o mesmo compromisso -, poderão impulsionar as negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, na avaliação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O chanceler brasileiro reuniu-se ontem, em Londres, com os representantes dos Estados Unidos, da UE e da Índia para tratar de possíveis aproximações nos temas mais delicados desta rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Não discutimos objetivamente as declarações do presidente Bush. Mas elas ajudaram a impulsionar o diálogo e vão contribuir para a Rodada Doha", afirmou Amorim.

A rigor, sempre que se discute o tema subsídios, os Estados Unidos deixam claro que somente os eliminarão se os europeus seguirem a mesa receita. No ano passado, a UE reformou sua Política Agrícola Comum (PAC), pacote de subsídios e de proteção comercial aos produtores. Washington ainda não moveu uma palha na política para os agropecuaristas, a Farm Bill. Mas as declarações do presidente americano, neste momento de decisões na agenda agrícola da OMC, soaram como um bom sinal.

O encontro de ontem faz parte de uma série de reuniões informais que serão realizadas até a Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro. O objetivo será avançar, até o final do ano, na definição dos parâmetros para a redução dos subsídios aos agropecuaristas, a eliminação das subvenções às exportações do setor e a abertura dos mercados agrícolas. Também será o de concluir as bases para a negociação da abertura para os setores de bens industriais e de serviços. Sem o avanço nessas três áreas, as negociações para valer não seriam iniciadas.

Entre os próximos dias 11 e 13, representantes de cerca de 25 países da OMC se reunirão em Dalian, na China, para uma nova tentativa de aproximação. Ontem, entretanto, o tema agrícola foi tratado de maneira ampla e genérica, assim como a indicação de os Estados Unidos virem a eliminar os subsídios dentro de 5 anos.

Ao lado do ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, Amorim reafirmou ao representante dos EUA para o Comércio, Rob Portman, e ao comissário da UE para o Comércio, Peter Mandelson, os objetivos do G-20, grupo de países em desenvolvimento que quer a eliminação de subsídios e a abertura de mercados agrícolas nas negociações da OMC.

Amorim ainda lembrou as afirmações dos presidentes Bush e Jacques Chirac, da França, de que é preciso avançar nas negociações comerciais.

"Todos reconhecem que o sistema multilateral de comércio é desequilibrado e que é preciso reequilibrá-lo", afirmou. "Para o Brasil, o motor dessas negociações é a agricultura. Se motor ratear, a negociação pára."