Título: Assessor do irmão de Genoino é preso com mala de dinheiro em SP
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A4

Ao tentar embarcar ontem de manhã no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com destino a Fortaleza, o passageiro José Adalberto Vieira da Silva, de 39 anos, chamou a atenção do funcionário que operava a máquina de raio X. Ele detectou a presença de dinheiro na pequena mala que Silva levava na mão. Pediu que abrisse e, minutos depois, estava armada o que pode ser uma nova e potente bomba no caminho do PT. Constatou-se que Silva levava R$ 209 mil na mala e US$ 100 mil sob a roupa, dentro da cueca. Também tinha na bagagem uma agenda com o selo comemorativo dos 25 anos de fundação do PT e documentos com o timbre do partido, do qual ele faz parte. Constatou-se em seguida que ele é assessor do líder petista na Assembléia Legislativa do Ceará - o deputado José Nobre Guimarães, membro do diretório nacional do PT e irmão do presidente nacional da legenda, José Genoino.

A mala era de náilon e muito simples - semelhante às que são distribuídas em congressos, com a inscrição No Stress. E os reais estavam organizados em pequenos pacotes. Já os dólares estavam escondidos sob a cueca e só foram descobertos depois que o funcionário tirou Silva da fila de embarque , para uma revista. Ao ver tanto dinheiro, ele chamou o supervisor, que disparou o alarme para a Polícia Federal.

Silva não soube explicar a origem do dinheiro. De acordo com informações de pessoas envolvidas com a sua prisão, num primeiro instante ele alegou que era agricultor, plantava e tinha acabado de fazer negócios no Ceagesp - a central de abastecimento de São Paulo.

UNHAS BEM CUIDADAS

"Deixa eu ver tua mão", teria dito o policial que o interrogava. Quando ele mostrou, desconfiaram ainda mais do que dizia, por não ter calos típicos de quem trabalha no campo, e das unhas bem cuidadas e pintadas com esmalte transparente.

A partir de informações obtidas no Ceará, a polícia verificou ainda que Silva já foi candidato ao cargo de vereador na cidade de Aracati, interior do Estado. E que não conseguiu se eleger.

Do aeroporto, Silva foi levado para a sede da Superintendência Regional da PF, no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo. A prisão ocorreu às 11h40 e desde então ele não falou mais, afirmando que só vai responder a perguntas em juízo. Por não ter declarado o dinheiro antes de viajar, nem explicado sua origem, o assessor petista responderá por crimes contra o sistema financeiro e a ordem tributária nacional.

ESCALA EM BRASÍLIA

A polícia já começou a reconstituir os passos de Silva em São Paulo. As primeiras informações indicam que ele chegou na quinta-feira e teria se hospedado em um hotel na região da Avenida Faria Lima.

O bilhete de passagem que Silva apresentou ontem no aeroporto, quando foi detido, previa uma escala em Brasília - mas não se sabe se ele pretendia descer na capital federal ou seguir direto para Fortaleza.

A chegada de Silva à superintendência da PF foi discreta. Entrou pelo estacionamento dos fundos, reservado para funcionários e não chegou a ser notado pelo batalhão de jornalistas que, na porta principal, aguardava a chegada de outros dois petistas: Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro.

LIGAÇÕES

Os dois ex-dirigentes se ofereceram para prestar esclarecimentos nas investigações da Polícia Federal sobre o escândalo dos Correios - que envolve acusações de propinas e tráfico de influência na nomeação de diretores da empresa. Silvio chegou às 13 horas, e começou a depor às 14 horas, permanecendo na superintendência da PF até as 15 horas. Foi interrogado principalmente sobre possíveis ligações com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o principal operador do mensalão.

O depoimento de Silvio foi acompanhado pelo advogado Arnaldo Malheiros, contratado pelo PT, segundo informações do ex-secretário geral. Malheiros é um dos criminalistas mais conhecidos de São Paulo, já tendo atuado em defesa do ex-prefeito Paulo Maluf e do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos, entre outros casos famosos.

Quando a notícia de que estava no local um petista ligado ao irmão de Genoino circulou entre os jornalistas, a primeira reação foi de ceticismo. A informação, no meio da maior crise já sofrida pelo partido, parecia uma armação risível. Logo depois, porém, funcionários da sala da imprensa da PF informaram que estavam preparando uma nota com mais detalhes, incluindo fotos, da história do petista preso com a mala e a cueca cheias de dinheiro.