Título: Motorista diz que levou US$ 200 mil ao PT goiano
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A6

O motorista Wendell Resende de Oliveira denunciou que, na campanha das eleições municipais, no ano passado, a deputada Neyde Aparecida (PT-GO), com quem trabalhava, mandou que ele viajasse de Goiânia a São Paulo para buscar um pacote com US$ 200 mil na sede do diretório nacional do PT. Ontem a deputada divulgou uma nota em que contesta o motorista e diz que vai processá-lo. A denúncia de Wendell foi publicada pelo jornal O Globo. Na nota, Neyde admite que efetivamente mandou Wendell a São Paulo, em setembro de 2004, e que ele realmente deveria ir à sede do diretório nacional do PT, no centro de São Paulo, mas para buscar material de campanha, não dinheiro.

O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, disse que pedirá informações sobre o caso à Polícia Federal e ao Ministério Público Estadual de Goiás. "Mas, a rigor, não temos nada a ver com isso", adiantou.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), também tratou o caso com cautela. "Vamos avaliar se é o caso de convocar a deputada Neyde Aparecida, porque temos outras prioridades", afirmou.

Segundo a deputada, seu ex-motorista tentou chantageá-la antes de conceder a entrevista a O Globo. "Nos últimos dias, o senhor Wendell fez contatos com meu escritório de Goiânia afirmando que estava passando por dificuldades e que a luz de casa estava cortada. Diante disso, assessores meus estiveram em sua casa, onde ele afirmou que estava recebendo oferta de até R$ 60 mil de órgãos da imprensa para dar entrevista sobre fatos que envolvessem a minha pessoa e o PT", contou.

Segundo Neyde, Wendell abandonou o emprego de motorista depois que foi surpreendido fazendo um saque de R$ 400 na conta da deputada, em 15 de janeiro. "Tive conhecimento da referida operação ao conferir o meu extrato bancário. Como eu não havia ido ao banco naquele dia solicitei, ao meu gerente, a apuração dos fatos. Dias depois, ele forneceu dados e apresentou a fita da câmera de segurança de uma agência onde se via, nitidamente, o senhor Wendell Resende executando a operação de saque", explicou ela.

Neyde conta ainda que Wendell teria abandonado o trabalho sem dar nenhuma explicação. "Não registrei o fato nos órgãos competentes naquele momento por considerar que Wendell me apresentaria explicações convincentes para seu ato", insistiu.

PASSAGEM

A versão de Wendell é bem diferente. Ele contou que entre Goiânia e São Paulo ele viajou de avião, mas foi orientado a voltar de ônibus, para evitar que a revista policial no aeroporto detectasse o dinheiro - como, aliás, ocorreu ontem com um assessor de um deputado do PT.

Wendell exibiu a passagem de ônibus e um papel timbrado do gabinete da deputada, onde ela teria anotado à mão o endereço e telefones do diretório nacional do PT, no centro de São Paulo. Ele relatou que, ao chegar a Goiânia, entregou o pacote de dinheiro a um filho da deputada, que, segundo Wendell, encaminhou parte à campanha do tio em Quirinópolis (GO) e parte à campanha de Carlos Soares, irmão de Delúbio Soares - tesoureiro licenciado do PT -, que concorreu a vereador sem sucesso.