Título: Prisão em SP abre guerra no PT
Autor: Vera Rosa e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A8

Ficou muito complicada a situação do presidente do PT, José Genoino, depois que José Adalberto Vieira da Silva, assessor parlamentar de seu irmão, o deputado José Nobre Guimarães, foi preso no Aeroporto de Congonhas com uma mala recheada com R$ 209 mil e mais US$ 100 mil sob a roupa. A notícia caiu como uma bomba ontem na reunião do Campo Majoritário, grupo de Genoino e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que detém quase 60% dos cargos de direção no partido. Pior: abriu nova guerra interna, detonou uma rede de intrigas e acusações do PT contra o PT.

Depois de 12 horas de discussão, aliados de Genoino garantiram que ele não renunciará porque tudo não passa de "armação política". "Vocês não podem fazer isso comigo", afirmou o presidente do PT, em conversa reservada, quando viu a possibilidade de sua queda tornar-se real. "Eu não transgredi, nunca cometi crime nenhum. Vocês sabem que eu nunca mexi com dinheiro."

Na reunião, houve quem acusasse setores do próprio PT, ligados ao Banco do Nordeste e contrários à permanência de Genoino no cargo, de serem os responsáveis pela "armação".

Antes do escândalo protagonizado por José Adalberto, moderados tentavam jogar uma tábua de salvação para Genoino. A proposta até então esboçada para ser levada hoje à reunião do Diretório Nacional previa "repactuação" interna com as correntes de esquerda, mantendo Genoino no comando.

Depois que a dinheirama apareceu com José Adalberto, todos ficaram desnorteados. Foi um dia de cão para o governo e o PT, que, antes, também teve de dar explicações sobre o aval do publicitário Marcos Valério a mais um empréstimo para o partido, desta vez no valor de R$ 3 milhões, em maio de 2003. "O demônio está solto", resumiu João Antonio Felício, secretário-geral da CUT.

A penca de acusações serviu de argumento para os que defendem a saída de Genoino.

TRIBUNAL DE EXCEÇÃO

"Presidir o PT é missão e pretendo continuar exercendo-a, discutindo reestruturação ampla da executiva e um programa de reforma administrativa, com auditoria em nossa contabilidade e prestação de contas", disse Genoino antes da prisão de José Adalberto. Diante das sucessivas denúncias, porém, ele ressalvou que não será motivo para mais divisão no PT.

"Nosso partido está sendo alvo de uma saraivada de ataques sem critério, inclusive com procedimentos legalmente questionáveis de investigação. Vamos enfrentar essa situação de cabeça erguida", afirmou ele, em referência à CPI dos Correios.

Na reunião do Campo Majoritário, o ex-ministro José Dirceu conclamou o partido a reagir ao que chamou de "conspiração das elites". "Querem o impeachment do presidente Lula. É disso que se trata", comentou, de acordo com participantes do encontro. A portas fechadas, Dirceu criticou a CPI que, na sua opinião, se transformou em "tribunal de exceção" por tentar quebrar o sigilo de petistas antes mesmo de seus depoimentos. Convencidos de que há uma manobra da oposição para destruir o PT e o governo, Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira anteciparam-se à CPI e puseram seus sigilos à disposição quinta-feira.

Dirceu defende a permanência de Genoino no comando do PT. Numa tentativa desesperada de ajustar o PT em frangalhos, moderados chegaram a sugerir oferecer à esquerda a secretaria-geral - segundo cargo na hierarquia. "Se não mudarmos a linha política do partido, nem Jesus Cristo dará jeito", ironizou Valter Pomar, um dos vice-presidentes do PT, candidato da Articulação de Esquerda à sucessão de Genoino.

Do Planalto, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, mandou um recado para os companheiros: não quer ser presidente do PT. A Dirceu, garantiu que, mesmo se sair do governo, não aceitará ocupar a vaga de Genoino neste momento.