Título: PF quer saber se Valério bancou gastos de parentes do presidente
Autor: Vannildo Mendes e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A10

A Polícia Federal vai pedir hoje à Justiça a quebra de sigilo dos cartões de crédito pessoais e corporativos do publicitário Marcos Valério de Souza, de sua mulher Renilda Maria e de todas as suas empresas. O objetivo é checar a suspeita de que cartões do empresário possam ter sido usados por algum parente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por membros do governo ou do PT. "Esperamos que o pedido seja atendido com urgência, porque nesse tipo de investigação a rapidez é fundamental", disse o delegado Luiz Flávio Zampronha, encarregado do inquérito. A notícia da quebra de sigilo dos cartões de Valério movimentou os bastidores do poder em Brasília. A suspeita mais corrente, levantada por membros da CPI dos Correios, é de que um filho de Lula teria usado um cartão corporativo da agência de publicidade DNA, de Valério, ao longo de 2004. No período, no qual teria trabalhado na campanha do deputado Vicente Paulo da Silva para a prefeitura de São Bernardo, ele teria gasto pouco mais de R$ 115 mil.

Os parlamentares da CPI chegaram a esse valor com a soma das faturas mensais de um cartão de crédito que teria como titular o filho de Lula. O cartão teria débito automático autorizado numa conta corrente de Valério no Banco Rural. O mês de dezembro de 2004, da última fatura, é o que aparece com a maior despesa, R$ 15.949,58. O cartão começa com gastos de R$ 12.587,21. No período, a menor fatura ocorreu em outubro, R$ 5.549,85.

NOVA ARMA

Zampronha disse desconhecer essas informações, mas ressaltou que, se forem verdadeiras, vão aparecer com a quebra de sigilo. Fontes do governo informam que a suspeita foi rigorosamente checada nas últimas semanas e não passa de lenda.

Com a medida, a PF inaugura uma nova etapa na investigação de crimes financeiros, pois os cartões de crédito, não abrangidos na quebra de sigilo bancário, são a forma mais usual de pagamento de contas no País.

"Os cartões não mostram apenas movimentação de dinheiro, mas o histórico de vida dos suspeitos, seus relacionamentos e sua rotina. Podem mostrar, por exemplo, com quem o suspeito se encontrou e aonde, no dia de um grande saque bancário ou movimentação financeira", explicou o delegado.

A quebra de sigilo dos cartões servirá também para conferir as movimentações gerais de dinheiro do publicitário e de suas empresas, que faturaram mais de R$ 400 milhões em 2004, a maior parte em contratos com órgãos públicos.

O principal elo de Valério com o partido do presidente Lula era o secretário do PT, Delúbio Soares, afastado do cargo esta semana. Delúbio foi ouvido ontem pela PF, em São Paulo, assim como o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, também licenciado do cargo.