Título: Planalto tenta barrar acordo para fusão de CPIs
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A14

Depois de trabalhar contra a abertura da CPI dos Correios, o Palácio do Planalto tenta agora impedir acordo para transformar as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos em uma única supercomissão parlamentar de inquérito destinada a apurar a corrupção no País. No atual cenário, o governo avalia que é melhor deixar as investigações pulverizadas em várias CPIs porque isso enfraqueceria o poder de apuração das denúncias de irregularidades. Para impedir a fusão das CPIs, o Planalto já começou a mobilizar aliados e líderes. Mandou recado para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para que vete esse acordo. A idéia de fusão das CPIs começou a ser articulada porque a oposição chegou a conclusão de que, diante de tantas denúncias de corrupção, não há parlamentares com fôlego para investigar a fundo todos os casos em várias CPIs. Os partidos da oposição trabalham para escolher seus melhores quadros e indicá-los para a super-CPI.

Por essa mesma razão, uma super-CPI da Corrupção seria o pior dos mundos para o Planalto. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), está com a missão de desmobilizar qualquer movimento pela fusão das CPIs. Os governistas trabalham para que o Congresso entre em recesso e diminua a platéia para as CPIs.

Ontem, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi à tribuna para defender a super-CPI, que teria "vários braços" com relatores para cada tema. "O Partido dos Trabalhadores deve ser o primeiro a querer esta CPI da Corrupção e quem estiver envolvido com corrupção deve ser posto para fora", discursou.

Simon recebeu o apoio do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O líder do PT e presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (MS), também concordou com a proposta.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, apoiou a idéia e defendeu que os líderes discutam a fusão das CPIs. Ele reconheceu que seu partido não tem nem gente suficiente para os trabalhos de várias CPIs. Só para a dos Correios, o bloco PSDB/PFL teve de indicar 10 dos 32 parlamentares para integrar a comissão, dos quais quatro são do PSDB. Ainda indicou parlamentares para a CPI dos Bingos e terá de escolher políticos para a CPI mista do Mensalão.

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) também concorda com o argumento tucano. "Não temos quadros para tantas CPIs", disse. A proposta de fusão das CPIs deverá ser tema de uma reunião dos líderes na terça-feira convocada por Renan Calheiros.