Título: Lula garante que Gushiken só deixa o ministério se quiser
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A16

Ao empossar ontem os três novos ministros do PMDB - Silas Rondeau (Minas e Energia), Hélio Costa (Comunicações) e Saraiva Felipe (Saúde) -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, só deixará o governo se quiser. "Eu quero dizer aqui, pra todo mundo ouvir, que o companheiro Gushiken continuará dirigindo a Secom. A não ser que em algum momento ele possa dizer: 'você quer mas eu não quero, então vou embora'. Aí eu não posso segurar na marra", afirmou. "Estou dizendo isso para acabar com os boatos."

No discurso, o presidente aproveitou para avisar que pretende concluir a reforma até terça-feira pela manhã, antes de embarcar para Paris, e estabeleceu um critério para isso: "Eu entendi que seria melhor deixarem o governo agora, do que em marco, abril do próximo ano, os companheiros e companheiras que estão no governo e são candidatos a alguma coisa nas próximas eleições." Para Lula, se deixasse para depois, "teria de atravessar 2005 com um governo praticamente provisório porque, faltando seis meses para terminar o mandato, corremos o risco de as melhores pessoas do País estarem concorrendo a algum cargo e você ter de montar o governo não na dimensão que o País precisa para o seu ministério".

Por isso mesmo, a reunião ministerial que já havia sido adiada para segunda-feira, foi transferida para terça-feira. Lula aproveitou também para anunciar o nome de Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho e, com o recado dado, pretendeu deixar claro que o ministro Olívio Dutra, de Cidades, que ainda não havia sido contatado por ele, não deixará o cargo.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que estava cotado para a pasta do Trabalho, e, agora, deve voltar para a Câmara, preferiu não comparecer à cerimônia, apesar de ter passado o dia no Planalto. Jaques Wagner ainda não foi confirmado, mas deverá mesmo ir para o lugar de Aldo.

ELOGIOS

Gushiken já avisou aos seus auxiliares que fica no governo. Lula fez inúmeros elogios aos ministros que saem e aos que entram, mas destacou o nome do titular da Secom, alvo de denúncias. "O companheiro Gushiken cuida não apenas bem da Secretaria de Comunicação, mas do mundo de assuntos estratégicos, que é um coisa extremamente importante", disse Lula, que foi aplaudido. "Eu acho que nós não podemos, a qualquer insinuação contra qualquer companheiro, a priori, achar que as pessoas são culpadas."

Para Lula, "quem fizer acusações precisa provar as acusações, porque senão as ilações tomarão conta da política nacional". "E eu acho que nós precisamos tratar esses assuntos com carinho." E completou: "Todas as coisas serão investigadas no seu momento certo, com o cuidado certo, com o critério certo, ou seja, por isso que eu nasci contra a pena de morte. Sendo contra a pena de morte, por que eu vou ser favorável à pena de morte na política? Ou qualquer coisa eu já tirar uma pessoa antes de ela poder provar a verdade e a mais absoluta verdade, que, no fundo, no fundo, é o que interessa ao povo brasileiro e sobretudo à nossa consciência".

Lula também fez elogios à ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, ao contar como a escolheu para as Minas e Energia. Disse que a conheceu numa reunião para elaborar o programa energético do governo, durante a campanha à Presidência, e viu uma "uma mulher de rosto delicado que falava mais forte que os homens". "Então eu disse: tá aí. Achei a minha ministra de Minas e Energia", contou. Lula afirmou ter certeza de que Dilma terá a mesma competência na Casa Civil, onde substituiu José Dirceu.

O presidente disse ainda que o Brasil está cheio de exemplos de pessoas que foram execradas quando estavam exercendo uma função no governo e, depois de deixar seus cargos, foram alçadas a patamares alcançados por grandes homens. Ele destacou que não é a pressa ou a ansiedade que vai mostrar o que o ser humano faz na sua passagem pela terra. Segundo o presidente, a história está cheia de exemplos de pessoas que foram massacradas em vida e, depois de mortas, se tornaram heróis.

Ao falar sobre o ministro demissionário da Saúde, Humberto Costa, Lula lembrou que sua relação política com ele vem da época da fundação do PT. Disse que nem sempre os dois "bicaram a mesma fruta". "O Humberto, muito astuto, inteligente, pertencia a correntes que não eram a minha."

APELO

O presidente Lula fez um apelo aos novos ministros peemedebistas: que ajudem a unir o partido. "O PMDB, partido grande, um partido importante no Brasil, mas que está conseguindo a proeza de ter tantas tendências quanto o meu PT", brincou o presidente, ao pedir apoio dos novos ministros e aos que deixavam o cargo para ajudar a aprovar as propostas do governo no Congresso.

De acordo com o presidente Lula, o PMDB "vai precisar de todos os quadros bons para fazer trabalhar de forma conjunta", para dar uma "ordenada" no partido.