Título: Discurso compara remédio a cachaça
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Nacional, p. A16

O presidente Lula abusou dos improvisos ao discursar na posse dos novos ministros. Enquanto elogiava o trabalho do petista Humberto Costa, citou a venda de doses de cachaça nos bares para defender a venda de remédio de forma fracionada nas farmácias. "Quando alguém quer ir ao bar tomar um aperitivo, não chega, pede uma garrafa de cachaça e toma toda. Ele vai pedindo uma por uma e remédio tem de ser assim", disse. "Por que é que tem de comprar todo de uma vez? Compra um por um, daquilo que quer comprar, apenas a quantidade certa." Em outro momento, sugeriu que os brasileiros saiam mais de casa, em vez de ficar vendo "notícia ruim" na frente da TV ou só tomando remédio e se queixando. "Sou um jovem que levanto todos os dias às 6h30, ando quase 1 hora e conheço pessoas que fazem isso e tinham pressão alta. Quando começa a andar sistematicamente, a pessoa passa a ter a pressão regulada." E afirmou que, "em vez de tomar um comprimido, pode tomar uma tacinha de vinho e não tem nenhum problema".

Para Lula, muitas pessoas, a maior parte aposentados, ingerem comprimidos demais quando tomam café da manhã. "E depois se queixam, normalmente os aposentados, dizendo: Puxa, vida, o que ganho não dá para comprar remédio. Está certo que se ganha pouco no Brasil, mas não é só que ganha pouco, é que tem de tomar muito remédio porque não se exercita."

PT PRECISA ASSUMIR

Remédio também estava na ponta da língua do presidente antes da solenidade, na longa reunião que teve com ministros na Granja do Torto. Mas de outro tipo. Segundo o governador do Acre, Jorge Viana, que participou, Lula ressaltou que o PT precisa assumir publicamente os erros e falhas e explicar com detalhes tudo o que fez de errado nos últimos anos. "Ele disse que se teve erro, que se assuma o erro, se teve falha, que se assuma a falha. Que não temos de ficar na dúvida e na meia verdade, o melhor remédio em tempos de crise é a boa verdade."

Viana disse que Lula não pretende influir nas mudanças no PT. Mas ressaltou que se houve algo ilegal é preciso dizer isto à sociedade. O governador disse que ao admitir erros o PT não estará necessariamente admitindo crimes: "São coisas bem distintas. Agora, se nesse intervalo aconteceu algo ilegal, aí a questão é com a Justiça."