Título: Um dia de terror na linha Picadilly
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Internacional, p. A18

Destroços retorcidos e fumegantes de um ônibus de dois andares. Calçadas ensopadas de sangue e partes de corpos. Dezenas de pessoas feridas gritando em agonia ou mudas pelo choque. Essa foi a cena devastadora com a qual se confrontou o dr. Laurence Buckman quando parou diante de seu escritório no prédio da Associação Médica Britânica.

Em minutos, recorda-se Buckman, ele e uma dezena de colegas montaram uma unidade de atendimento improvisada no exíguo jardim do prédio e começaram a tratar as vítimas. Trabalharam durante horas, ajudando pessoas com fraturas múltiplas, queimaduras, ferimentos no peito e na cabeça e, em alguns casos, membros decepados. Duas pessoas morreram no jardim, apesar do esforço desesperado dos médicos para ajudá-las.

"Fizemos o que pudemos", disse um esgotado Buckman, na tarde de quinta-feira. "Se salvamos vidas? Espero que algumas pessoas tenham tido chance de melhorar sua sobrevida." Vítimas, testemunhas e paramédicos lembraram um dia que muitos previam, mas para o qual ninguém estava de fato preparado.

Fiona Trueman, de 26 anos, estava no trem da linha Piccadilly que teve mais vítimas. "Houve um grande estrondo, as luzes se apagaram e havia muita fumaça e vidros se espatifando", lembrou. "Foram quatro ou cinco segundos, e então as pessoas gritando: 'Meu Deus, não podemos respirar.' O que passava pela minha cabeça era: 'Estou sonhando?' Era surreal. A bomba estava na frente do trem ou nos trilhos. Eu estava no segundo vagão. Todos gritavam para que se quebrassem as janelas. Os gritos no vagão dianteiro eram terríveis."

Os sobreviventes da linha Piccadilly acham que passaram meia hora presos na escuridão, na fumaça e no sangue dos vagões. Alguns disseram ter chorado. Outros procuraram conversar, perguntando aos estranhos que tipo de trabalho faziam. Os gritos dos feridos tornavam a situação ainda mais aterradora. "Os gritos do vagão na nossa frente eram terríveis", repetiu Fiona.

Os passageiros finalmente conseguiram passar pelo último vagão, quase intacto. Sentindo o caminho, eles andaram 15 minutos até a estação King's Cross, com medo de ser eletrocutados pelos trilhos, disse Aka. Os mais fortes ajudavam os feridos, passando por corpos mutilados e inertes.