Título: Total de mortos já passa de 50
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Internacional, p. A18

São mais de 50 os mortos nos atentados de quinta-feira em Londres, reconheceu ontem o comissário da Polícia Metropolitana da capital, Ian Blair, acrescentando que os investigadores não encontraram nenhuma indicação que os ataques foram perpetrados por homens-bomba. Ele disse que 49 corpos tinham sido resgatados ontem, mas ressaltou que ainda havia cadáveres no interior de um dos túneis do metrô que corria o risco de desabar. Em 56 minutos, quatro explosões se converteram no pior ataque terrorista da história de Londres. As três primeiras ocorreram no interior de vagões dos trens de metrô. A quarta destruiu um ônibus de dois andares no leste da cidade, causando a morte de 13 pessoas.

As bombas, de acordo com as apurações iniciais, tinham aproximadamente 4,5 quilos cada uma. Apesar de pequenas, a ponto de poderem ser acondicionadas em mochilas, foram montadas com explosivo plástico de alto poder destrutivo. Pelo que se pôde concluir após a análise de alguns destroços, no entanto, não se tratava de semtex, um explosivo sintético de uso militar.

"Não temos nada que sugira a ação de terroristas suicidas nos ataques", disse o comissário, que desmentiu rumores que circularam pela manhã em Londres de que as autoridades britânicas haviam descoberto outros pacotes-bomba e os submetido a detonações controladas.

Por razões não esclarecidas, a polícia britânica retirou todos os passageiros da Estação Liverpool Street. As pistas indicaram também que as bombas foram detonadas por um sistema de timer (bomba-relógio).

Ian Blair, porém, disse que considera a possibilidade de a bomba que destruiu o ônibus ter explodido acidentalmente, quando um terrorista a levava até um outro ponto da cidade, como uma estação de metrô.

A possibilidade de os explosivos terem sido detonados por telefone celular - sistema aparentemente usado nos ataques aos trens de Madri em 11 de março do ano passado - foi praticamente descartada pelos investigadores, uma vez que esses aparelhos não funcionam nos túneis do metrô de Londres.

Os investigadores procuram evidências nos destroços deixados pelas explosões e nas imagens das cerca de 1.800 câmeras das estações ferroviárias e de metrô de Londres. Até ontem à noite, nenhuma prisão tinha sido efetuada, embora o secretário de Interior britânico, Charles Clarke, tenha ressaltado que a prioridade é a identificação dos autores materiais dos atentados.

Clarke negou que a polícia e os serviços de inteligência britânicos houvessem subestimado a ameaça de um ataque terrorista em Londres, reduzindo o nível de alerta na capital para reforçar a prontidão na Escócia, onde se realizava a reunião de cúpula do Grupo dos Oito.

"Temos um serviço secreto muito bom, mas não podemos prever um ataque concreto neste momento concreto", disse Clarke. "O motivo disto é que estamos procurando poucas e pequenas agulhas malvadas num palheiro muito grande: Londres."

A autoria da série de ataques foi reivindicada na quinta-feira pelo grupo até então desconhecido Organização Secreta Al-Qaeda para a Jihad na Europa. No comunicado divulgado por um site na internet, o grupo ameaçou perpetrar atentados semelhantes na Itália,Dinamarca e outros países que tenham tropas no Iraque e no Afeganistão.

"Parece claro que esse tipo de atentado não poderia ter sido perpetrado por uma única pessoa", disse Ian Blair numa entrevista coletiva. "É óbvio que temos uma célula terrorista agindo em Londres e, por isso, temos de nos manter alerta e não podemos descartar nenhuma hipótese."

O comissário de polícia informou que entre os feridos há cidadãos de Serra Leoa, Austrália, Portugal, Polônia e China. A Alemanha informou que quatro de seus cidadãos haviam sido feridos e o Departamento de Estado dos EUA anunciou que quatro americanos também foram feridos nos ataques.

"O principal em nossa investigação é que tenhamos o apoio de todas as comunidades que vivem no país", declarou Andy Hayman, membro de uma unidade especial antiterrorismo. Associações que agrupam muçulmanos britânicos conclamaram seus membros a ajudar a polícia a "encontrar e capturar os assassinos".

Há 15 meses, um dirigente islâmico, Omar Bakri Mohammed, declarou numa entrevista ao jornal português Público que um grupo chamado Al-Qaeda na Europa estava preparando um grande ataque em Londres. Bakri Mohammed - suspeito de manter vínculos com o extremista islâmico e suposto representante de Osama bin Laden na Europa, Abu Qatada - disse que era "inevitável" que a capital britânica fosse alvo de uma "grande operação".