Título: Árabes temem represália na Europa
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Internacional, p. A21

Formadores de opinião, especialistas e editores de jornais no Oriente Médio temem que os árabes comecem a ser hostilizados também na Europa, como ocorreu nos EUA depois do 11 de Setembro. Segundo analistas ouvidos pelo Estado em Beirute, Ramallah e Doha, os ataques em Londres não servem nem à causa palestina nem ao combate à ocupação estrangeira no Iraque. "O sentimento no Oriente Médio é de raiva contra os autores dos atentados. Na Inglaterra existem mais de 4 milhões de muçulmanos que conseguiram viver no país em relativa estabilidade diante da tolerância britânica e européia em relação ao mundo árabe. Nosso maior temor hoje é que essa tolerância acabe diante das mortes, não só na Inglaterra, mas também em outros países europeus", disse Mohamed Krichene, um dos âncoras da rede de TV Al-Jazira.

Mayffam Zaaroura é editora do Daily Star, jornal em língua inglesa de Beirute, e também teme que os árabes na Europa comecem a ser hostilizados com mais freqüência. "Muitas famílias no Líbano têm parentes na Europa nesse momento e existe uma extrema preocupação em relação a essas pessoas que podem começar a sofrer represálias pelas ações dos terroristas. O cenário não é nada positivo para as relações entre o Oriente Médio e a Europa", disse.

Na Cisjordânia, o analista Khalil Shaheen acredita que o atentado em Londres, assim como o de Madri, há um ano, não colaboram com a causa palestina. "Não queremos toda a atenção do mundo voltada ao combate ao terrorismo, mas ao desenvolvimento da região. A opinião pública palestina não está apoiando o ataque e vejo que muitos líderes na comunidade árabe estão desapontados com os acontecimentos", disse Shaheen, que nos anos 70 e 80 foi porta-voz de Yasser Arafat.

Ele lembra que os árabes consideram os europeus mais próximos do Oriente Médio que dos EUA. "Mesmo que tenha participado na guerra contra o Iraque, a imagem de Londres é ainda bem diferente da imagem que existe nos países árabes sobre o povo americano", completou.