Título: 'No fundo, isto aqui é bem triste'
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Penhorar jóias é a ultima opção e inadimplência é baixa

Luciane Maia estava apreensiva. Aguardava a vez numa das agências de penhor num dos endereços da Avenida Paulista, em São Paulo. Luciane, segundo a Caixa, é o perfil da clientela do penhor. As dívidas financeiras foram implacáveis com sua paixão: as jóias. Penhorou anéis, alianças, pulseiras, brincos. Ela até vacilou. Penhorou, sem avisar, uma pulseira da filha, Stefani Cristine Maia Lopes. "Foi um presente de debutante. Está penhorado", lamenta Stefani. Luciane foi à agência de penhor renovar a cautela e evitar o pior, o envio das jóias para leilão. Tinha dois anéis para penhorar e salvar o restante. Não precisou. Renovou a cautela por mais um tempo. Pesquisa da Caixa Econômica Federal (CEF) indica que o penhor é recurso extremo. Cerca de 70% das pessoas que buscam o penhor usam o dinheiro para pagar dívidas pessoais. É motivo, por exemplo, para certo receio em se identificar. Poucas pessoas se dispõem a falar com naturalidade sobre a decisão de penhorar os bens, assim como Luciane.

A maior parte das pessoas prefere silenciar a perguntas sobre o penhor de bens, ainda mais quando há sugestão para imagens. "Não quero falar e não quero fotos", disse uma cliente, momentos antes de entregar um punhado de jóias para observação minuciosa do avaliador.

"No fundo, isto aqui é bem triste", resumiu Arthur 'Andrade' (o sobrenome é inventado). No penhor, tem R$ 3 mil em jóias, que espera recuperar. "Eram de minha mãe", disse. Dívidas, a razão de tudo. Estava na agência para renovar a cautela, pagar os juros da operação para ganhar mais prazo. Quem sabe mais adiante consiga restaurar o patrimônio.

Pelas regras do penhor, a jóia vale o que pesa, não o que significa. Por isso, enfeites e sentimentos não contam. Para a Caixa é um 'negócio da China'. A garantia é o bem. O empréstimo nunca é superior a 80% do valor da avaliação, que, segundo a instituição, é feita com rigor. Empréstimo de 80% do valor da jóia e a própria no cofre.

Apesar disso, o índice de inadimplência não é elevado, 2%. Sem a renovação da cautela, a jóia vai a leilão. Se foi trocada por R$ 100, a instituição tenta recuperar o valor emprestado. Se obtiver valor superior, a diferença é devolvida ao cliente.