Título: Caixa reage à estagnação do penhor
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Para enfrentar queda das operações com jóias, instituição anuncia expansão da rede de atendimento no Brasil

A Caixa Econômica Federal (CEF) decidiu reagir a uma constatação recente: a estagnação da modalidade de crédito mais segura para a instituição, o penhor de jóias. Operação é feita pela Caixa desde a sua criação, em 1861, mas perdeu fôlego em 2004, quando não acompanhou a expansão do crédito. A razão foi a imposição do limite de R$ 15 mil por operação, decisão já revista para os antigos R$ 50 mil. Mas também foi superada pelo crédito consignado, principalmente entre pessoas de mais idade.

"É inegável que outras modalidades de crédito vêm ganhando espaço, mas, no caso do penhor, a grande contribuição para não ter havido crescimento foram os limites para as operações", afirma Fredi William Wunderlinch, gerente de Mercado da Caixa, em São Paulo.

Além do aumento do limite de operações para R$ 50 mil, medida adotado em fevereiro, o banco anunciou a ampliação do número de agências das atuais 347 para 400 até o fim do ano e a possibilidade de fazer as operações de renovação e liquidação em qualquer agência. Até agora, as transações somente podiam ser feitas nas agências onde o penhor foi contratado.

A expectativa é que as novas medidas dêem impulso ao penhor, no mesmo ritmo observado no começo da década. Em 2000, segundo números da Caixa, foram fechadas 7,573 milhões operações. O conjunto desses contratos de penhor pôs no mercado o total de R$ 2,213 bilhões em crédito.

Até o ano de 2003, a Caixa elevou pouco a quantidade de agências autorizadas a realizar operações de penhor, de 296 (em 2000) para 310 (em 2003). Foi nesse ano que o banco fechou exatos 9.764.216 contratos de penhor, o que permitiu ampliar a oferta de crédito para R$ 4,067 bilhões. No período, o crescimento foi de 84%.

No ano passado, a expansão parou. Ainda de acordo com números da Caixa, ao longo do ano de 2004 a instituição negociou 9.252.650 contratos, distribuídos pelas 324 agências autorizadas no País. Obteve, entretanto, uma evolução em volume de crédito de apenas 0,56% em relação a 2003. O valor de crédito negociado foi de R$ 4,090 bilhões.

Segundo a Gerência Nacional de Microfinanças e Penhor, divisão da Caixa responsável pelo controle desse tipo de crédito, a expectativa é que até o fim do ano o volume de crédito originado em operações de penhor seja elevada em 2,5% e alcance R$ 4,192 bilhões.

Em todo o primeiro semestre deste ano, os negócios nas agências de penhor cresceram 1% ante igual período de 2004, tanto em número de contratos quanto em valores de crédito. Foram 4.393.894 operações, para desembolso de R$ 2,096 bilhões. Desse total, R$ 283 milhões estão enquadrado na categoria de micropenhor.

REAÇÃO

A primeira reação da Caixa para a estagnação desse tipo de operação ocorreu a partir de agosto do ano passado, com a criação do micropenhor. Segundo a Caixa, isso surgiu como iniciativa de popularização do modelo de crédito, mas também como forma de flexibilizar uma modalidade de operação financeira considerada rápida e desburocratizada pelos usuários .

A diferença básica para operações de penhor convencionais é a taxa de juros e os critério para enquadramento. O cliente que deseja penhorar uma jóia pelo mecanismo de micropenhor não pode ter movimentação bancária superior a R$ 1 mil, seja na Caixa seja em outro banco.

Há restrição também no valor crédito: R$ 600, no máximo.Nesse caso, o cliente terá uma taxa de juro de 2% ao mês, enquanto nos empréstimos para valores maiores a taxa varia de 2,60% para financiamento até R$ 300 e de 3,25% para cifras maiores. São taxas inferiores às principais modalidades de crédito disponíveis no mercado, que enfrentam concorrência apenas das operações de crédito consignado, que podem ser de 1,5% para empréstimos de curto prazo ou 3,5% para concessão de créditos de prazos mais longos.

Dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que, em comparação com modalidades de crédito convencionais no mercado, como Crédito Direto ao Consumidor (CDC), juros do comércio, cheque especial, crédito pessoal e cartão de crédito, a taxa nas operações de penhor é competitiva. Pela pesquisa de maio, a taxa média mensal de juros em São Paulo - considerada as principais operações, fora o consignado - foi de 7,66% ao mês, elevados para 142,47% ao ano.