Título: VLS não será lançado no prazo
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2005, Vida&, p. A25

A promessa de fazer um novo lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) até o fim de 2006 não será cumprida. O compromisso foi assumido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo após o acidente de agosto de 2003, quando um incêndio na torre de lançamento destruiu o terceiro protótipo do foguete e resultou na morte de 21 técnicos. "A impressão é de que precisaremos de mais alguns meses para concluir a preparação do novo foguete e da torre", disse ao Estado o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Sérgio Gaudenzi. "Não diria que é impossível, mas muito difícil. Temos de trabalhar sem pressa, para não comprometer a segurança."

O Comando da Aeronáutica, responsável pelas operações do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, confirmou o adiamento do prazo - sem data definida. "Não deve haver lançamento até 2006", informou o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica. Um novo cronograma de lançamento está sendo preparado com base nas sugestões e análises apresentadas pela equipe de técnicos russos, contratada para investigar o acidente com o VLS e orientar a reconstrução do programa.

O prazo já era considerado irrealista por muitos desde o início, em decorrência da escassez de recursos e da falta de infra-estrutura necessária. Mas foi reiterado várias vezes pelo governo nos últimos anos. Essa é a primeira vez que as autoridades espaciais falam oficialmente em um prazo mais longo.

Desde que o programa do VLS foi iniciado, em 1980, as três tentativas de colocá-lo no espaço fracassaram: em 1997, 1999 e 2003. Nas duas primeiras, a falha ocorreu logo após o lançamento e não houve vítimas. Na última delas, em 2003, o VLS foi destruído por um incêndio dias antes do lançamento, quando técnicos faziam preparativos na torre de lançamento. Um dos motores do foguete foi acionado acidentalmente por uma corrente elétrica.

"Acho que a expectativa de 2006 era importante dentro do espírito de que se daria continuidade ao projeto. Mas, claramente, era um tempo muito curto para reconstruir tudo o que precisa ser reconstruído", avalia José Oliveira, representante da associação de parentes das vítimas do VLS. "Foi um prazo precipitado, mas esperamos que tudo ocorra de fato e possamos um dia homenagear nossos companheiros com um lançamento de sucesso. Todos eles tinham o projeto como um filho."

Oliveira concorda que é melhor trabalhar com um prazo maior, mas com segurança. A falta de orçamento e a pressa, segundo ele, foram as principais causas por trás do acidente em 2003.

O VLS, como o próprio nome diz, é um foguete projetado para colocar satélites em órbita. Com quase 20 metros de altura, o protótipo brasileiro tem capacidade para levar satélites de até 350 quilos a uma altura de até mil quilômetros. O projeto, apesar dos fracassos, é um dos principais do programa espacial brasileiro, necessário para que o País tenha autonomia no lançamento de satélites.

RECONSTRUÇÃO

O edital de licitação para a construção da nova torre móvel de lançamento do CLA foi lançado em maio e ainda não está concluído. Nas próximas semanas, a AEB deverá abrir também licitação para uma grande obra de reconstrução e ampliação da base. O projeto envolve uma série de obras de infra-estrutura, incluindo recuperação de estradas, melhoria do abastecimento de água e sistemas para remoção de lixo inorgânico perigoso, assim como a construção de casas, escola e hospital para as famílias dos trabalhadores.

"Poderemos ter de 7 mil a 10 mil pessoas além da população já existente", calcula Gaudenzi. A idéia, segundo ele, é ampliar a função do centro de lançamento para um centro de capacitação. "Nossa meta é criar um novo pólo de ciência e tecnologia, que servirá como germinador de projetos na fronteira entre o Norte e o Nordeste", disse. "Alcântara pode ser para a população local o que foi para São José dos Campos a instalação do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, criado na década de 50 na cidade do interior paulista)."

Um terceiro edital também deverá ser lançado pelo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (Deped) da Aeronáutica para a reestruturação da parte de sistemas da base - que inclui, por exemplo, o sistema de radares.