Título: No Paraná, hospital aceita a ajuda de adolescentes
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Vida&, p. A24

No Pequeno Príncipe, em Curitiba, estudantes entre 14 e 18 anos integram o projeto Jovem Abraça Criança

Na primeira vez em que Maria Eduarda Arenhart, de 13 anos, pisou no hospital, chorou. Saiu impressionada, mas não desistiu. "Foi a melhor coisa. Estar com as crianças dá uma alegria muito grande. A vontade é de ficar mais", diz Duda, como é conhecida no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, onde é voluntária uma vez a cada 15 dias, assim como 50 adolescentes entre 14 e 18 anos. É um perfil que normalmente os hospitais rejeitam - em geral pelos controles de infecção e pela questão da responsabilidade -, mas que o Pequeno Príncipe valoriza. "Eles participam do projeto Jovem Abraça Criança, com estudantes da 8ª série, principalmente com recreação no ambulatório. O jovem tem vontade de ajudar e aprende muito", diz a coordenadora do voluntariado do Pequeno Príncipe, Rita de Cássia Cersosimo Lous. Muitos estão no ensino médio e continuam. "Se quiserem ficar o resto da vida, podem", afirma Rita.

O hospital pediátrico, mantido por uma ONG, atende 800 pacientes por dia, 70% do SUS. É referência no País. São 520 voluntários adultos. "Há dez anos, as pessoas procuravam o serviço por caridade, mas depois de 2000, ano internacional do voluntariado, a razão passou a ser a responsabilidade social.

No dia 1º, com laçarotes vermelhos, saia rodada e sardas feitas a lápis, Duda se entregou à quadrilha da festa julina com os outros voluntários para divertir as crianças. Quem não pôde sair da cama não deixou de participar. Levaram até a pescaria ao quarto. "É bem legal e não atrapalha em nada. Dá tempo de fazer tudo", diz Arthur Lauxen Luiz, de 13 anos, que faz sucesso com seu teatrinho de giz. "Ver a alegria deles já vale o dia." Os pais de Arthur pensam em abraçar algum serviço voluntário como o filho, que não falta nunca. "Já estão procurando."

Supervisora do laboratório do hospital, a mãe de Kamila Adriana Fernandes, de 18 anos, foi a responsável por despertar seu interesse pelo voluntariado. "Estou trabalhando há duas semanas. Gostei muito. Quando a criança te vê já abre aquele sorriso gigante", afirmou Kamila.

Mas ela já tinha percebido antes a diferença que esse tipo de dedicação pode fazer. "Há quatro anos fui atropelada, fiquei quase um mês internada, cinco dias na UTI, e lá não tinha voluntários. Seria muito legal se alguém me fizesse rir. É importante", diz Kamila. "Dar tchau é o mais triste."