Título: 'Você está preparado para entrar numa UTI?'
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Vida&, p. A24

Ainda há muito o que avançar no Brasil, onde apenas cerca de 18% da população participa ou já participou de trabalho voluntário. Um bom começo é conhecer o Centro do Voluntariado de São Paulo, que oferece curso rápido e atende 800 pessoas por mês. O centro tem 1.100 entidades cadastradas na cidade e no site é possível ver as mais próximas de casa. Somente a Secretaria de Estado da Saúde tem em seus hospitais 2 mil vagas em aberto. Boa parte das 34 unidades oferece treinamento. "Há vários tipos de atividades, mas o principal é ser um amigo do paciente dentro do hospital", diz o diretor de Saúde da secretaria, Ricardo Tardelli. Para atuar nessas unidades, é preciso ter mais de 18 anos e disponibilidade de quatro horas, uma vez por semana.

O Instituto Dante Pazzanese é o que oferece o maior número de vagas: 200. "Somos 130, mas precisamos de mais. A humanização do atendimento de saúde é importante", afirma Rosângela Lurbe, presidente do voluntariado do Dante. "É preciso cumprir o compromisso sem faltar. As pessoas ficam na expectativa desse auxílio", diz Rosângela. E a formação é indispensável. "Temos um curso de um dia com os voluntários, mais um com médico e dois meses de treinamento."

"O principal é ter vontade de trabalhar. O resto vem", explica a superintendente do voluntariado do Graac, Léa Della Casa Mingione, que atua no Instituto de Oncologia Pediátrica. De acordo com ela, tem gente que tem medo de não agüentar, mas não é preciso contato direto com a criança doente. "Temos 17 setores, da quimioterapia à escola móvel, arquivo, casa de apoio às famílias."

A instituição oferece palestras de treinamento a cada dois anos. A última foi em junho. No formulário, a pessoa informa a disponibilidade. Há ainda a visita e treinamento de um mês. Só então está pronta para ser estagiária por dois ou três meses. "A maioria não desiste."

PARCEIROS

A Associação Viva e Deixe Viver, que tem 630 contadores de histórias no País, é uma das entidades que têm a seleção mais rígida. "Dos 1.200 inscritos neste ano, só ficaram 170. A próxima será em 2006", explica Mirella Di Gennaro, diretora de Desenvolvimento Humano da Viva.

Para participar, a pessoa deve preencher uma ficha e aguardar o chamado. Se isso ocorrer, começa um processo que leva cerca de um ano. "As pessoas não gostam de gastar tanto tempo. Mas, quando se vêem frente a frente com a criança doente, admitem que foi bom", diz Mirella. "Você pode entrar na UTI, onde às vezes nem a mãe pode. Está apto?", costuma perguntar.

Na Operação Arco-Íris, que trabalha com a figura dos clowns (palhaços), a seleção tem várias etapas. No último processo, chegaram 200 inscrições e foram aceitos 8 voluntários. "O processo todo é um combustível necessário", diz Claudia Rubinstein, presidente da Arco-Íris.

"Comecei com a cara e a coragem em 1996, depois de ficar 25 dias internado num ambiente sem humanização. Mas há muito tempo isso já não basta. A pessoa acha que já será voluntário no dia seguinte", diz Eduardo Valarelli, do Projeto Carmim, que leva arte aos pacientes. A seleção na entidade ocorre duas vezes por ano. Dos 60 candidatos de janeiro, só 3 concluíram o processo."