Título: Referendo é exemplo a outros países
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2005, Metrópole, p. C5

O principal instituto de estudos e de levantamento do número de armas no mundo, o Small Arms Survey, elogia a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a lei que estabelece um referendo sobre o futuro do comércio de armas de fogo no Brasil. A aprovação ocorreu na quarta-feira e o referendo será realizado em 23 de outubro. Segundo o diretor da entidade, Keith Krause, o referendo será o primeiro no mundo nesse estilo e pode ser exemplo para outros países. "Há uma guerra silenciosa no Brasil e esse referendo pode ser uma base para escutar o que a sociedade quer em relação ao tratamento da violência", afirmou Krause, mostrando amplo conhecimento sobre a situação brasileira.

Na última quinta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), promulgou o decreto legislativo que dá a possibilidade para a realização do referendo que questionará a população sobre a proibição da venda de armas no País. Os cidadãos terão de responder se são contra ou a favor da proibição. "É uma votação simbólica e com resultados práticos para a luta contra os efeitos desse tipo de armamento", afirmou o diretor do instituto, com base na Suíça, e que serve como verdadeiro banco de dados e de análise para os trabalhos da ONU. Na segunda-feira, os especialistas do Small Arms Survey publicam seu novo relatório sobre o número de armas no mundo, em Nova York, na sede das Nações Unidas.

Krause ainda revela ao Estado que está concluindo um estudo específico sobre a situação das armas no Brasil. "Acompanhamos de perto as evoluções no Brasil. O País conta com um número de mortos por armas superior ao número de vítimas em várias guerras e, por isso, damos uma atenção especial ao Brasil", disse. Ele lembrou que a avaliação ocorrerá em colaboração com a entidade Viva Rio. Nos anos anteriores, a Small Arms Survey publicou, em seu relatório anual, dados que deixaram irritada a indústria de armas no Brasil.

Segundo o estudo, o Brasil está entre os maiores exportadores de armas leves, dado contestado pelo setor privado. Seja qual for a posição do Brasil no ranking dos maiores vendedores de armas, um estudo preparado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alerta que 104 pessoas são vítimas de armas de fogo por dia no País. "As mortes no Brasil superam a marca de 30 mil por ano, o que é algo assustador e bem superior às vítimas de algumas guerras", disse Krause.

O Brasil está entre os países que defendem um acordo internacional para monitorar a venda de armas entre os diferentes mercados. O entendimento começa a ser debatido na ONU, em Genebra, mas ainda precisará de muita negociação para se tornar realidade. O acordo prevê, por exemplo, algum tipo de monitoramento sobre a venda de armas para tentar explicar como um determinado armamento, que somente é usado em guerras na África ou pelas polícias dos países ricos, chega às favelas brasileiras.