Título: Petróleo pode travar queda do juro
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Inflação em baixa, produção industrial em alta: o noticiário econômico nacional da semana proporcionou raras boas notícias em meio à crise política. O alívio só não foi maior porque um velho fantasma voltou a assustar o mundo: o preço do petróleo futuro, que passou pela primeira vez na história a casa dos US$ 60 por barril. Na opinião de especialistas ouvidos pelo Estado, trata-se da maior ameaça à esperada redução do juro básico pelo Comitê de Política Monetária (Copom). "Um reajuste no preço dos combustíveis, hoje, seria um baque", resume o economista-chefe da corretora Ático Asset Management, Artur Carvalho.

Com os recentes dados sobre deflação na economia, o mercado passou a acreditar que o fim do arrocho monetário, iniciado em 2004, poderia vir mais rápido. Agora, ressalta o analista de petróleo da consultoria GRC Visão, Tiago Davino, esse produto ressurge como entrave à queda do juro. "Caso o petróleo venha a estourar, vira a pior ameaça à economia brasileira", completa.

Em relatório enviado esta semana a seus clientes, os analistas Damian Fraser e Tomás Lajous, do Banco UBS, põem a inflação brasileira como o principal risco, para a América do Sul, da manutenção do preço do petróleo futuro nos atuais patamares. A valorização do real frente ao dólar, dizem, compensou parcialmente a alta do petróleo e garante a manutenção dos preços no curto prazo, mas ninguém no mercado é capaz de arriscar, com convicção, previsões sobre o futuro. "Ninguém sabe o que vai acontecer", admite o professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP Edmílson Moutinho dos Santos.

Até onde se pode prever, a expectativa é que a cotação do barril não se mantenha perto dos US$ 60 por muito tempo. A escalada atual tem forte influência do furacão Dennis, que provocou a evacuação de plataformas de petróleo no Golfo do México. A GRC Visão acredita num recuo para perto dos US$ 55 nas próximas semanas. O consultor Jean-Paul Prates, especialista em mercado internacional de petróleo da Expetro, vai além: ele prevê que o barril chegue nos mesmos US$ 55, mas no final do ano.

Em se tratando de petróleo, porém, previsões frustradas não são uma raridade. Quando o barril ultrapassou pela primeira vez a casa dos US$ 40, em maio de 2004, o mercado apostava num retorno à antiga banda da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), entre US$ 22 e US$ 28, assim que cessassem as ações terroristas contra instalações petrolíferas no Iraque.

Quatro meses depois, quando as cotações atingiram os US$ 50, a situação voltaria à normalidade depois de resolvidos os conflitos na Nigéria e na Arábia Saudita. Já naquela época ninguém acreditava em retorno à banda da Opep. O piso já havia subido para a casa dos US$ 40 por barril. Hoje, concordam os entrevistados, o piso já é superior, próximo aos US$ 50. Ou seja, o mundo está se acostumando ao petróleo caro.

"O crescimento da economia mundial está suportando os altos preços", diz Davino, da GRC. A questão é saber até quando a Petrobrás vai suportar. O último reajuste promovido pela estatal nos preços da gasolina e do diesel ocorreu em novembro, quando o petróleo rondava a casa dos US$ 50 por barril. A defasagem entre os preços internos e as cotações internacionais já levou as duas refinarias privadas brasileiras à difícil decisão de suspender as atividades. A estatal tem a vantagem de ser produtora de petróleo, o que garante uma compensação, na área de exploração e produção, das perdas no refino.

A Petrobrás diz que vai esperar a formação de um novo patamar para decidir por alterações. Enquanto isso, reajusta produtos menos populares, como a nafta petroquímica e o querosene de aviação, de acordo com as oscilações externas.