Título: 'Vou ter de sobreviver como José Genoino Neto'
Autor: Vera Rosa Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Nacional, p. A4

Em declaração de oito minutos, presidente do PT entrega o cargo diante da 'grande responsabilidade que o partido tem de enfrentar a crise e superá-la'

Foi com a voz embargada que José Genoino anunciou ontem o seu afastamento da presidência do PT."Vou ter de saber como sobreviver como cidadão José Genoíno Neto", disse ele. Em declaração de oito minutos ao lado das principais lideranças do partido e de alguns integrantes do governo, como o ministro da Educação, Tarso Genro, e o líder do governo, Arlindo Chinaglia, Genoino afirmou que, acima de sua decisão, existem dois valores: o PT, enquanto partido estratégico e o projeto da esquerda, baseado nos valores generosos do socialismo humanista, e a importância estratégica do governo do presidente Lula. "Diante desses dois valores essenciais, os dirigentes do PT e eu, como presidente do partido, tenho que colocar as minhas pretensões em segundo plano", afirmou. Genoino disse que vinha consultando as principais lideranças da legenda e as forças políticas petistas sobre seu pedido de licença diante da "grande responsabilidade que o PT tem nesse momento de enfrentar essa crise e superá-la".

Ao anunciar seu desligamento, insistiu na necessidade da repactuação interna da sigla. "Eu entreguei meu cargo ao diretório nacional e faço isso com o sentimento de dever cumprido", declarou, com os olhos cheios de lágrimas. Enquanto ele falava, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acompanhava a declaração ao seu lado, também emocionado.

Genoino afirmou que passou 30 meses no comando do partido e que sempre encarou o desafio de presidir o PT como uma missão que a ele foi delegada. "Na verdade, o meu projeto passava bem distante de presidir o PT", disse, destacando que foi deputado federal por 20 anos. Enfatizou, ainda, que o PT está vivendo um momento duro. Mas insistiu que essa não é a primeira vez que ele convive com o lado duro da política, já que foi preso político na ditadura.

Ao agradecer ao apoio dos integrantes do partido, ele assegurou que certamente foram cometidas "falhas, erros, equívocos e procedimentos". "Mas no PT nós não praticamos irregularidades, nenhum ato ilícito. O PT não compra nem paga deputados".