Título: Tarso anuncia devassa nas contas
Autor: Ana Paula Scinocca e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2005, Nacional, p. A5

O PT fará uma devassa em suas contas para saber a dimensão do rombo no caixa e todas as dívidas com o publicitário Marcos Valério, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o "operador" do mensalão. Ontem, após comandar pela primeira vez a reunião da executiva como presidente do PT, Tarso Genro anunciou a criação de um grupo de trabalho de finanças, coordenado pelo novo tesoureiro da sigla, deputado José Pimentel (CE). Avisou ainda que a partir de hoje o PT terá o "diário do tesoureiro", que ele chamou de agenda. "Lá deverão constar todos os encontros, visitas e negociações", contou. "Todos os integrantes da Executiva que tratarem de relações financeiras terão de marcar nessa agenda a data, a hora e o local das reuniões. A relação financeira que não estiver registrada nessa agenda será considerada ilegal pela Executiva", detalhou.

PUNIÇÃO

Tarso também ressaltou que quem descumprir a ordem estará estará sujeito a punição, incluindo Comissão de Ética. O livro trará anotações sobre pedidos de contribuições ao PT, negociação de dívidas e de contratos. "Vamos falar com vocês sobre o daqui para a frente. Daqui para trás, as instâncias que falam sobre isso são administrativas, do governo, da Polícia Federal e da Justiça", disse Tarso.

Segundo ele, um plano imediato de recuperação das finanças do PT será apresentado já na semana que vem, no dia 19. "Vamos examinar a situação financeira do PT e as dívidas para o próximo período", contou.

O PT tem dívidas de campanha que somam R$ 20 milhões. "Pimentel ficou mais careca do que ele é", disse Tarso, ao comentar a reação do tesoureiro quando viu o tamanho do rombo no partido. Pimentel respondeu com bom humor: "Sou careca desde 1969."

PRIMEIRO AS PIORES

Tarso admitiu ainda que, após examinar as dívidas que o PT tem, dará preferência ao pagamento dos empréstimos que tanta dor de cabeça causaram ao partido, como os financiamentos que tiveram Marcos Valério como avalista. Tentará, ainda, negociar a dívida com outros credores, ou seja, rolar a dívida. "Queremos, de preferência, nos livrar das dívidas mais complicadas, que nos trazem desgaste político. Não estou dizendo que são ilegais, mas é um fato que nos causaram problemas", comentou ele.

Questionado sobre o fato, Pimentel disse que a quitação das dívidas será feita de acordo com cronograma de pagamentos. "O PT começou a fazer uma auditoria nas contas ainda na gestão do José Genoino (ex-presidente do partido)", afirmou. Ontem ele conversou com Delúbio Soares, o tesoureiro afastado, para se informar sobre os pagamentos. Delúbio esteve na reunião da executiva.

Tarso também defendeu ampla investigação na relação dos Bancos Rural e BMG - que em 2003 emprestaram R$ 5,4 milhões ao PT - com os fundos de pensão. No ano passado, os dois bancos teriam sido contempladas com R$ 458,4 milhões em aplicações financeiras da Petros e da Fundação Real Grandeza. "Se não ocorrer investigação profunda, a imagem do partido estará profundamente desgastada", reconheceu.