Título: Tucanos vão questionar negócios do filho de Lula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Nacional, p. A8

Investimentos da Telemar em empresa de Fábio exigem apuração, avalia PSDB

BRASÍLIA - A assessoria jurídica do PSDB está estudando todos os detalhes do investimento de R$ 5 milhões feito pela companhia telefônica Telemar na empresa Gamecorp, em busca do melhor caminho para questionar a operação financeira na Justiça. A produtora tem entre os sócios o biólogo Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente Lula. "Talvez seja a questão mais grave e delicada que surgiu até agora, por envolver a família do presidente. A empresa era muito pequena e é preciso apurar por que a Telemar entrou ao mesmo tempo como sócia e compradora do produto oferecido. Parece ter havido beneficiamento. Mas não vamos ser levianos de fazer denúncias sem conhecer bem a operação", disse ontem o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

Em janeiro deste ano, a empresa telefônica comprou por R$ 2,5 milhões 35% das ações da Gamecorp. Outros R$ 2,5 milhões foram pagos para garantir à Telemar a exclusividade dos programas de games criados pela empresa do filho do presidente. A negócio teve como intermediário a empresa BDO Trevisan Auditoria, Consultoria e Terceirização, que pertence a Antoninho Marmo Trevisan, amigo do presidente Lula e integrante do Conselho de Ética do governo federal.

Para Goldman, a instância que deve investigar se houve irregularidade ou favorecimento é o Ministério Público. "Os órgãos do governo não têm credibilidade para apurar", afirmou o líder do PSDB. O deputado chama atenção para o fato de que a Telemar tem entre os principais acionistas o BNDES, um banco estatal, e um consórcio de fundos de pensão, incluindo Previ (do Banco do Brasil) e Petros (da Petrobrás). "A Telemar é portanto uma paraestatal", disse Goldman.

O deputado Eduardo Paes (RJ), também tucano, diz que, pelo envolvimento da família do presidente da República, a apuração exige "um excesso de cuidado, de prudência e de serenidade". Paes avaliou: "É claro que, se o filho do presidente se utilizou da posição de seu pai para ter vantagem, isso é muito grave e é preciso avançar nessa investigação. Não é uma investigação qualquer, essa é a mais séria que temos até agora."

MESMA OFERTA

A participação a um amigo do presidente na intermediação da operação financeira é, para os tucanos, um "indicativo" de que possa ter havido um favorecimento ao filho de Lula. A DBO Trevisan garante que fez a mesma oferta de participação acionária e exclusividade no uso dos produtos da Gamecorp a várias empresas privadas e que a Telemar só soube da participação do filho do presidente na empresa quando o negócio já estava acertado.

No Palácio do Planalto, apesar do impacto negativo causado pela notícia no primeiro momento, o assunto agora é considerado sob controle. Preocupado em ser diretamente atingido, o que serviria para agravar ainda mais a crise enfrentada pelo governo, o presidente Lula pediu para as operações da Gamecorp fossem avaliadas. A conclusão dos técnicos da Presidência é de que não há brecha para que o negócio seja considerado ilegal. Interlocutores do presidente admitem, porém, que talvez não tenha sido ético.