Título: Festival de besteirol na madrugada
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2005, Nacional, p. A11

Parlamentares se digladiam nas longas sessões da CPI

BRASÍLIA - Apesar da gravidade das revelações que surgem a cada depoimento, a CPI dos Correios tem momentos que mais parecem esquetes de teatro besteirol. À medida que as longas sessões avançam pela noite, começam a chegar parlamentares que não são integrantes da comissão, mas têm direito a falar e, pior, a fazer perguntas ao depoente. Como, em geral, não estavam presentes desde o início, os "não membros", como são chamados, repetem questionamentos feitos durante o dia inteiro. Na quarta-feira, durante o depoimento de Marcos Valério Fernandes de Souza, uma pergunta foi feita pelo menos dez vezes: "O senhor foi avalista de um empréstimo do PT?".

Monossilábico, Valério dizia: "Sim." Outra questão, talvez, tenha ganho em número de vezes repetida: "O que o senhor foi fazer na Casa da Moeda?" Já passava das 23 horas quando o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), anuncia o próximo a falar. "Deputado Jorge Quin...deputado Jorge Sexto!" Sim, o alagoano do PSDB chama-se Jorge VI Lamenha Lins. "Quem é ele?", quis saber um integrante da mesa. Ninguém sabia. Eis que Jorge VI começa seus questionamentos: "O BMG é seu cliente? O senhor confirma os saques de R$ 20,9 milhões das contas de suas agências? Por que sacou em dinheiro vivo? O senhor levou o dinheiro em malas? A quem entregou?" Perguntas que Valério respondeu pela sétima, oitava vez no dia.

Nada se comparou, porém, à intervenção do senador Sibá Machado (PT-AC). Depois de repetir vários questionamentos feitos antes, o que provocou risos na platéia, Sibá reclamou dos deboches. "Tenho o direito de raciocinar!" Mais risos, enquanto o senador petista desafiava Marcos Valério: "O senhor assinaria um termo abrindo mão de seu sigilo bancário e fiscal?" O empresário responde: "Senador, eu vi na mídia que já foi quebrado." E Sibá, impaciente: "Não interessa. Responda minha pergunta!" Em seguida, Sibá Machado quis saber sobre negócios de Valério fora do País. "O senhor tem contratos no exterior? Em qualquer lugar, Afeganistão, por exemplo?" "Não, senhor", respondeu Valério.

Já o pedetista Pompeu de Mattos (RS), depois de criticar o contrato feito pelo ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha com uma das agências de Marcos Valério, disse: "Se isso acontecesse quando os petistas estavam na oposição, o PT subia no coqueiro de ré." Subir no coqueiro de ré? "Protestar, reclamar", traduz alguém. E assim se encerram as longas e cansativas sessões de depoimentos.