Título: Aço cai 1,14% e ajuda na deflação
Autor: Márcia De Chiara e Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

De vilão o aço virou mocinho nos índices de inflação e já começa a preocupar as siderúrgicas que fazem pressão junto ao governo para restabelecer as alíquotas de importação, zeradas em março, com o objetivo de coibir aumentos abusivos de preços. No mês passado, o grupo ferro, aço e derivados, que reflete predominantemente custos da siderurgia, fechou em queda de 1,14% no atacado, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado superou de longe a deflação registrada no Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), que foi de 0,45% para o período, e o próprio Índice de Preços por Atacado (IPA), do qual o grupo faz parte, que recuou 0,78% em junho.

"A queda das cotações dos produtos siderúrgicos em junho foi a maior registrada em apenas um único mês nos últimos dez anos, desde outubro de 1994", afirma o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. No ano inteiro de 2004, o aço foi o grande vilão da inflação: subiu 57,66%, muito acima do IGP-DI, que foi de 12,14% e do IPA (14,67%).

Na análise de Quadros, uma combinação de fatores fez com que o preço do produto recuasse. Entre eles, estão o real valorizado, que desestimula as exportações, a demanda interna enfraquecida, com sinal de acúmulo de estoques, e preços em queda no mercado externo, além da alíquota de importação zerada .

A queda de preços reflete a redução da demanda por aço. Sondagem Conjuntural da Indústria feita pela FGV mostra que em abril deste ano 20% das empresas apontavam a demanda por aço como forte e 2% consideravam fraca. No mesmo período do ano passado, 31% das siderúrgicas consideravam a demanda forte e apenas 9% delas apontavam como fraca. Essa freada no setor siderúrgico, que segundo Quadros foi mais intensa do que para o restante da economia, provocou a formação de estoques, especialmente por causa da disparada de preços do produto ocorrida no ano passado.

"Em maio, os estoques dos distribuidores de produtos siderúrgicos eram para 3,9 meses e devem ter passado de 4 meses em junho, enquanto o desejável é 2,5 meses", conta o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), André Zinn. Os distribuidores respondem por 33% dos volumes que circulam no setor.

Zinn confirma que houve retração de preços em praticamente todos os produtos siderúrgicos e atribui a queda a um excesso de oferta no mercado. "Os distribuidores e os consumidores acharam que iria faltar aço e compraram além do que precisavam", diz o executivo.

Com freada do consumo na ponta, houve formação de estoques indesejados. Depois do Dia das Mães, as vendas da indústria de refrigeradores e fogões caíram entre 10% e 12%. No acumulado de janeiro a maio, as vendas de aço das distribuidoras, por exemplo, recuaram quase que na mesma proporção, 14%, na comparação com mesmo período do ano passado.

Quadros, da FGV, observa também que o real valorizado e o preço em queda do aço no mercado internacional contribuíram também para o recuo da cotação. Entre dezembro de 2004 e maio deste ano, os preços dos produtos siderúrgicos no atacado dos EUA ficaram 6,04% mais baratos em dólar. Com isso, a rentabilidade das exportações diminuiu.

Dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) mostram que as exportações de aço somaram 4,25 milhões de toneladas entre janeiro e maio deste ano, um volume 10,9% menor ante os mesmos meses de 2004.

De acordo com Zinn, a alegria de preços baixos deve durar pouco. "Começamos a sentir neste mês um aquecimento da demanda, que é sazonal no 2.º semestre." O diretor da CPM, especialista em siderurgia, Marcelo Astrachan, considera esse movimento de queda de preços do aço um ajuste pontual. Para ele, as perspectivas continuam favoráveis em termos de preços para o setor. Procurados pelo Estado, IBS, CSN e Usiminas informaram que não comentam questões relativas a preços.