Título: Elétricas lucram com alta de tarifa e consumo
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

O aumento das tarifas e a retomada do consumo tiraram as empresas elétricas do sufoco provocado pelo racionamento de 2001. No ano passado, o faturamento total do setor cresceu 24% e atingiu R$ 70 bilhões, segundo levantamento da Lafis Consultoria. Neste ano, o resultado não deve ser diferente. A previsão é que as receitas das companhias avancem 15,2%, para R$ 81,6 bilhões. Esse valor é 114% superior ao faturamento apurado em 2001, de R$ 38 bilhões. Segundo o analista da Lafis Bruno Gomes Leite, os dois últimos anos foram bastante positivos para as elétricas. Além de o faturamento crescer, os custos caíram, especialmente por causa do recuo do dólar, que influencia o preço da energia de Itaipu e das termoelétricas movidas a óleo combustível e gás natural importados.

O avanço das receitas deve-se ao fato de os reajustes de energia subirem mais que a inflação. Em 2004, por exemplo, a tarifa média subiu 18%, enquanto o IGP-M avançou 12%, segundo dados da Lafis. O estudo mostra que em 2001 a tarifa média de energia no País estava em R$ 122,88 o megawatt/hora (MWh). No ano passado, esse valor saltou para R$ 197,35 o MWh - aumento de 60,6% em relação a 2001. Para este ano, a previsão da Lafis é que a tarifa atinja R$ 218,66 o MWh.

Junta-se aos reajustes o fato de o consumo de energia ter retomado o movimento de alta, depois do tombo do racionamento, que reduziu o volume de energia usada no País para níveis semelhantes aos de 1997. De 2001 para cá, o consumo cresceu 15,9%. A expectativa é que neste ano o volume de energia avance 4%. O desempenho poderia ser melhor se a economia já não apresentasse sinais de desaceleração, conforme dados do IBGE.

Com o avanço do faturamento e retomada do consumo, a margem bruta (antes de pagar impostos e despesas operacionais) das companhias também teve significativa recuperação, destaca Leite.

Segundo ele, em 2002, depois do racionamento, a margem bruta do setor caiu de 17,3% para 11%. Até o primeiro semestre deste ano, esse índice já havia atingido 29,5%, número bastante positivo, na avaliação do analista da Lafis. Na Light, distribuidora do Rio, que acabou de firmar acordo de renegociação de sua dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a margem bruta, que havia caído para 5% em 2002, atingiu 29% no ano passado.

O bom desempenho das elétricas também pode ser verificado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em um ano as ações das empresas de energia negociadas na Bolsa paulista e incluídas no Índice de Energia Elétrica (IEE) subiram 34,55%. Em 2005, a valorização soma 8,57%. Enquanto isso, o Índice Bovespa avançou 19,77% em um ano e recuou 4,51% em 2005.

Entre os destaques de energia elétrica está a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), cuja valorização em um ano atingiu 143,12% e 36,61%, em 2005. O preço das ações da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) também teve desempenho bastante positivo: avançou 69,13% em 12 meses e 16,02% neste ano, até ontem. Os papéis da AES Eletropaulo - que teve sérios problemas financeiros no pós-racionamento e teve de renegociar quase toda a sua dívida - subiram 43,82% no prazo de um ano e 27,03% em 2005.

O Grupo Eletrobrás, no entanto, amargou desvalorizações significativas nos últimos 12 meses. As ações da holding, que controla Furnas, Eletronorte e Chesf, caíram 19,01%.