Título: Ricos rejeitam proposta do G-20
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

DALIAN, CHINA - O Grupo dos 20 (G-20), liderado por Brasil, Índia e China, apresentará hoje, na reunião ministerial da Organização Mundial do Comercio (OMC), na cidade chinesa de Dalian, sua nova proposta de liberalização agrícola. Mas representantes de Japão, Suíça, União Européia e Estados Unidos prometem atacar a iniciativa, considerada "inadequada" aos seus interesses. Apesar de dar o pontapé inicial aos debates, o próprio chanceler brasileiro, Celso Amorim, reconhece que a OMC não conseguirá chegar ao fim do mês com o primeiro rascunho do acordo de abertura de mercados, como estava previsto. Para ele, esse prazo deverá ser prorrogado para outubro. "Neste momento não podemos criar expectativas, temos apenas que pensar em fazer avançar as negociações e não deixar que descarrilem", afirmou o chanceler.

A reunião de Dalian, que será aberta hoje, tinha como objetivo reunir os ministros dos 30 países mais relevantes do comércio mundial para debaterem formas de avançar o processo. Mas, em reunião preparatória que acabou perto da meia noite de ontem, no horário chinês, os cinco principais negociadores - Brasil, Estados Unidos, Europa, Índia e Austrália - concordaram que a proposta do G-20 seria debatida hoje e os países fariam seus comentários sobre as idéias.

"Saímos na frente e agora vamos ouvir as reações. A bola está sempre no campo dos países ricos, e agora mais ainda", afirmou Amorim, que não ficará até o fim da reunião, amanhã. Amorim vai a Paris para acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pela proposta do G-20, a redução de tarifas para importação de bens agrícolas ocorreria de forma diferenciada para países ricos e pobres. As tarifas seriam divididas em cinco categorias para os países ricos e, quanto maior a taxa de importação, maior o corte que deveria ser realizado. Haveria ainda um teto de 100% para a aplicação de tarifas de importação nos países ricos e de 150% para países em desenvolvimento.

De certa forma, o Brasil abre mão, momentaneamente, de um maior acesso aos mercados da Índia e China, importadores de alimentos, para concentrar o ataque contra as barreiras dos ricos. Isso porque a proposta não exige cortes tão profundos por parte dos emergentes para abrirem seus mercados. Amorim ainda admite que parte das negociações sobre acesso a mercados ocorrerá de forma bilateral com países ou blocos, mas culpa os EUA por estarem focados, neste momento, mais na criação da Cafta que na Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

A delegação japonesa prometeu atacar hoje a idéia de um teto de 100% para todas as tarifas de importação dos países ricos. O arroz, por exemplo, sofre hoje barreira de 700% para entrar no mercado japonês. Em reunião com a delegação suíça, ontem, Tóquio concordou em ficar contra a proposta do Brasil.

Americanos e europeus já indicaram a Amorim que não teriam como fazer essa proposta ser aceita em seus países se o Brasil e os demais emergentes não aceitarem avanços nas negociações para a liberalização dos setores de bens industriais e serviços. Para Amorim, os países em desenvolvimento precisam ver um progresso claro nos debates sobre agricultura e não se pode "reverter" a lógica da rodada da OMC.

Amorim já praticamente abandonou a idéia de ter um rascunho do acordo acertado ate o fim do mês.