Título: O avanço do pequeno supermercado
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Economia & Negócios, p. B13

Supermercados independentes e redes com até 10 lojas, que atendem às compras imprevistas e do dia-a-dia, apesar do faturamento a anos-luz de distância das grandes redes, têm se saído melhor no embate com as maiores. Eles tiveram no ano passado um crescimento nas vendas, por metro quadrado, superior ao das empresas de grande porte. Na briga pela conquista do consumidor, os pequenos ganham pontos no atendimento, mais personalizado, e na agilidade para tomar decisões. Agora, começam a competir mais fortemente nos preços com as grandes, ao se associarem em centrais de negócios.

Pesquisa da revista especializada Supermercado Moderno revela que o faturamento por metro quadrado das redes que possuem entre duas e cinco lojas cresceu, em 2004, 16,2% em relação ao mesmo período no ano anterior. Para redes com 6 a 10 lojas, o aumento foi de 15,17% na mesma comparação e, para as independentes, de 14,19%. Já as empresas com mais de 50 lojas tiveram um crescimento de vendas por metro quadrado bem menor, de 9,72%, na comparação com o ano anterior.

A publicitária Gabriela Sardinha, de 32 anos, por exemplo, casada e com uma filha de cinco anos, alterna dois supermercados nas compras semanais, próximos de sua casa, em Santana. O maior, o Pão de Açúcar, mais sortido, serve para a compra ocasional de produtos especiais, como queijos, vinhos e frutas diferenciadas. Mas a cesta básica é comprada num supermercado menor, o Portal, com oito caixas, onde, segundo ela, os preços são mais baixos e o atendimento mais amigável.

"Não vou mais a hipermercados. Freqüentava o Carrefour, mas mudei de casa e não tenho espaço para armazenar uma compra grande. Não vale a pena ir a um hiper para uma compra semanal. Numa loja menor encontro o básico que preciso e economizo tempo ", diz.

Para a professora Sônia Maria Mora Monteiro, o preço pesa na decisão de compra, mas o atendimento atencioso de funcionários da loja também conta muito. Por isto, ela vai à loja do Dia%, na zona leste, região onde morou e que freqüenta para visitar a sogra. "O pessoal do supermercado me chama pelo nome, conversa, não dá para esquecer", diz. Também freqüenta de vez em quando o hipermercado D'Avó, na zona leste. No dia-a-dia, para comprar frutas,verduras e carne, vai ao Portal, seu atual vizinho em Santana.

Há 33 anos na rua Olavo Egydio, em Santana, Sheizin Goya está convencido de que o atrativo de seu pequeno supermercado com sete caixas, que leva seu nome, é mais do que atender a vizinhança. "Aqui é como uma família, conhecemos todo mundo, entregamos em casa, tentamos resolver de imediato o problema do cliente. No grande, não se fala com o dono", diz ele, que tem como concorrentes próximos o Pastorinho e o Pão de Açúcar.

As empresas menores têm recebido uma atenção redobrada da indústria, que não deseja ficar refém das grandes redes. "O fornecedor que já viu o filme da concentração das maiores cadeias no mercado europeu busca a estratégia da pulverização para a distribuição de seus produtos", diz o consultor Marcos Gouvêa de Souza, da Gouvêa de Souza GS&MD.

É claro que as redes de maior porte, supermercados e hipermercados, observa, estão atentas a esta mudança de comportamento do consumidor. No caso específico dos hipermercados, diz, eles mantêm boa rentabilidade, mas estão perdendo a capacidade de atrair clientes.

"O que se percebe é uma tentativa de reinventar o formato do hipermercado", diz. Eles têm incorporado serviços para se tornarem mais competitivos e procuram estar próximos da área de conveniência do consumidor, onde também estão as lojas de vizinhança. Também reduziram área de venda, principalmente pela dificuldade de encontrar terrenos grandes em áreas urbanas. A metragem média do Carrefour, por exemplo, que já foi de 13 mil metros quadrados, hoje caiu para 8 mil.

AGILIDADE

As pequenas ganham em rapidez para cadastrar lançamentos e no ajuste de mercadorias de acordo com o perfil do consumidor da região, observa Robert Macody Lund, presidente da Informa, que edita a revista Supermercado Moderno. A loja da pequena rede Hirota, no bairro do Jabaquara, por exemplo, lembra, consegue um diferencial competitivo em relação a outros concorrentes próximos, porque tem dois corredores de produtos consumidos, tradicionalmente, pela colônia japonesa. "Com foco num nicho específico, ele cativa o consumidor." Ele pondera também que, embora as grandes redes tenham economia de escala, chega um ponto em que este ganho é restrito. Quanto maior a companhia, mais complexa a tomada de decisões. Neste aspecto, as menores são mais ágeis.

Mas boa parte do crescimento das pequenas, acusam as grande redes, vem da informalidade. É um fato, na avaliação do professor de economia da Universidade de São Paulo, Nelson Barrizzelli. Ele diz que muitos supermercados pequenos se beneficiam da legislação que regulamenta as microempresas e os sistemas tributários denominados Simples. Após determinado tempo, quando deixam de ser micros, por elevarem seu faturamento, estes supermercados entram na informalidade.

"Para não perderem o enquadramento de microempresa, e mesmo vendendo valores anuais muito superiores, eles continuam não pagando impostos. Nesse caso, dependendo do enquadramento do produto na legislação do IPI e do ICMS, as diferenças entre quem paga todos os impostos e quem não paga pode chegar a mais de 30%", diz. O consultor Marcos Gouvêa observa que, quanto maior a carga tributária, mais cresce a vantagem competitiva dos informais.