Título: De auxiliar de escritório a dono de império de comunicação
Autor: Vannildo Mendes e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Nacional, p. A4

Detido ontem com sete malas de dinheiro no Aeroporto de Brasília, o deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP), de 61 anos, é um dos homens de confiança dos negócios da Igreja Universal. De ex-auxiliar de escritório da companhia de gás Gasbras, no Rio, e funcionário da Embratel, o bispo João Batista, como é conhecido, virou um executivo da área de comunicação pelas mãos da Universal. Entre 1992 e 2002 Batista ocupou o maior cargo, o de diretor-presidente, das emissoras de TV ligadas à igreja: Rede Record, de 1992 a 1996, Rede Família, de 1998 a 2002, e Rede Mulher, de 1999 a 2002. Durante esse período, o deputado aproveitou para montar um pequeno império pessoal das comunicações. Adquiriu cotas de sociedade em nove empresas do setor espalhadas pelo País, entre rádios e televisões - quatro já vendidas -, segundo sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral em 2002.

Seu patrimônio oficialmente declarado, de R$ 1,5 milhão, é composto ainda por duas empresas das quais aparece como sócio: a LM Consultoria Empresarial e Participações e a New Tur - Novo Turismo.

Tido no PFL como um homem de poucas relações partidárias, o bispo João Batista entrou para a legenda em 2001, com o objetivo de ser candidato pela Igreja Universal. Foi eleito com 121,2 mil votos.

O período de atuação nas emissoras de TV e de compra de suas empresas coincide com a época em que a Universal é apontada como beneficiária de um esquema de evasão de divisas e sonegação fiscal que teria rendido pelo menos US$ 18 milhões para a igreja.

A Universal é investigada pelo Ministério Público Federal desde 1999, por supostamente manter duas empresas, a Cableinvest Limited e a Investholding Limited, em paraísos fiscais. As empresas teriam sido usadas de 1992 a 1994 para remessas de dinheiro, via doleiros do Uruguai, para líderes da igreja e para laranjas. Um dos negócios investigados é a compra da Record do Rio, em 1992.

Bispo João Batista é um dos investigados pelo Ministério Público Federal no processo. Cruzamentos de dados da Receita Federal mostram que pelo menos R$ 56 milhões foram parar em contas de bispos da igreja, entre eles João Batista.

Ele seria também sócio, juntamente com as duas empresas investigadas, da Unimetro Empreendimentos - usada para administrar imóveis da igreja.