Título: Genoino pede rapidez à PF para investigar dinheiro
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O ex-presidente do PT José Genoino pediu ontem à Polícia Federal em São Paulo "maior celeridade possível" nas investigações sobre os US$ 100 mil encontrados na cueca de José Adalberto Vieira da Silva, ex-assessor de seu irmão, o deputado cearense José Nobre Guimarães (PT). Segundo Genoino, as apurações "revelarão por certo a total falta de vínculo" entre ele e o dinheiro apreendido no Aeroporto de Congonhas. Além dos dólares, Silva levava R$ 209 mil em uma pasta de náilon. A prisão do ex-assessor ocorreu na sexta-feira e precipitou a queda de Genoino do comando do PT.

O pedido à PF foi apresentado em documento de duas páginas, subscrito pelo advogado criminalista Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco. Ele disse que Genoino "está muito tranqüilo" e que irá se apresentar imediatamente se for intimado para depor. "Genoino não tem nada a ver com essa história", sustenta o criminalista.

"A única forma de tirar essa suspeita que ficou sobre ele é uma investigação objetiva e rápida da PF que possa comprovar isso que estamos dizendo", reiterou Luiz Pacheco. "Queremos que a PF demonstre quais são os vínculos do José Adalberto, que certamente não são vínculos com o Genoino."

O ex-presidente do PT confirma que conhece o ex-assessor de seu irmão. "Mas nunca houve um contato próximo", anotou Luiz Pacheco. "O Genoino se recorda dele porque ele (Silva) tinha um cargo de destaque na executiva estadual do partido."

"Foi tudo uma grande armação para atingir a mim e ao Genoino", declarou o deputado José Nobre Guimarães. "Vou desvendar esse mistério." Ele reafirmou que não sabia da viagem de seu assessor. O parlamentar está convencido que o suposto plano para prejudicá-lo foi montado em seu próprio Estado. Silva trabalhava com ele fazia 3 anos.

O nome de Guimarães aparece na agenda do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão no Congresso. O deputado disse que não tem contato com Valério e que não sabe por que seu nome consta da agenda. Afirmou, ainda, que Silva não o avisou que viajaria a São Paulo.

Ontem, a comissão executiva estadual do PT destituiu Silva do cargo de secretário de Organização do PT cearense. Foi aplicada a ele suspensão de até 60 dias de sua filiação. A Comissão de Ética foi convocada para "apurar os fatos e emitir parecer" para decisão do diretório estadual. "Fizemos o que tinha que ser feito", disse Sonia Braga, presidente do PT no Ceará.

Sonia afirmou que a executiva "chegou ao limite da legalidade no partido, não era possível fazer mais do que isso". A prisão de Silva, lamentou, "caiu como uma bomba e prejudicou todo mundo".

HOTEL

O delegado da PF Hugo Brazioli Silvinskis, que conduz o inquérito, mandou fazer perícia nas cédulas de dólares e reais para verificar se o dinheiro não é falso. A PF também vai pedir a quebra do sigilo dos telefones que Silva usou no hotel onde se hospedou em São Paulo, a partir de quinta-feira, às 14h10.

Os federais querem saber quem pagou as passagens e o hotel onde Silva ficou. Ele recebia R$ 2,5 mil por mês como assessor. A PF acredita que ele não teria condições de financiar a viagem e que foi a São Paulo atendendo encomenda de terceiros. Também será requerida a abertura dos dados do celular do ex-assessor. Ele apagou da memória do aparelho as últimas ligações que fez e que recebeu, mas o rastreamento judicial poderá identificar seus contatos.

Para os federais, a quebra do sigilo de Silva "vai ser reveladora" para mostrar com quem ele se encontrou em São Paulo. A PF suspeita que o ex-assessor apanhou o dinheiro com algum doleiro indicado por um executivo de um banco de Fortaleza que é filiado ao PT.

VERDADE

"O inusitado fato causou perplexidade", anotou o advogado de Genoino. Ele disse que a petição entregue à PF tem "o intuito de colaborar com a busca da verdade real, inspiradora de todo o processo penal". Para Luiz Pacheco, a apuração da PF "é a instância própria para esclarecer quais são as ligações do José Adalberto e se ele estava a mando de alguém."