Título: Amorim diz que não precisa ser monitorado
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Nacional, p. A8

DALIAN (CHINA) - O chanceler Celso Amorim, embora não seja filiado ao PT, disse que não precisaria ser monitorado pelo partido, proposta da nova direção nacional do PT depois dos escândalos de corrupção revelados nas últimas semanas. "Eu sou monitorado pelo presidente da República. Acho que isso é suficiente", disse o ministro, que está na China para reuniões sobre o comércio e segue hoje para se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris. Amorim disse que se filiou "por opção pessoal" ao PMDB durante a época em que Ulisses Guimarães era presidente do partido. "Eu me filiei, mas nunca me desfiliei ao PMDB. Mas também nunca recebi boletim mensal ou anual. Sinto-me muito identificado com o PMDB histórico", explicou. Apesar dessa identificação, o chanceler evita responder se sente que faria parte do PMDB de hoje. Questionado se integraria a cota pessoal do presidente Lula, Amorim apenas respondeu que se sentiria "muito honrado" nessa circunstância. DESPETIZAÇÃO A busca de saídas para a violenta crise que atingiu o governo e o PT levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a fazer uma pequena "despetização' do governo, cedendo espaço para o PMDB e, provavelmente, para o PP. Ao mesmo tempo, porém, o presidente da República teve de "ministerizar" o PT. Para três dos quatro cargos mais importantes do partido, Lula indicou três ministros: Tarso Genro (Educação), presidente: Ricardo Berzoini (Trabalho), secretário-geral: e Humberto Costa (Saúde), secretário de Comunicação. O deputado Paulo Delgado (PT-MG) - um crítico dos rumos do governo e também da direção do PT que caiu com as denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e distribuição do mensalão - acha que o presidente Lula fez uma jogada política interessante. "O PT precisava de bons quadros e o presidente os buscou no ministério", afirma ele. Na sábado, ao chegar a São Paulo para a reunião decisiva do PT que decidiu pelo afastamento do então presidente José Genoino, Delgado disse que o partido não estava em crise. "Quem está em crise é a oligarquia que dirige o PT", disse ele. Para Delgado, durante os últimos anos o PT foi dominado por essa oligarquia, formada principalmente por paulistas. "O partido foi tomado por São Paulo. Todos os quadros que se destacaram fora do PT paulista o fizeram por conta própria, sem nenhuma ajuda." O deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) afirmou que o presidente Lula procurou construir um novo PT sem observar a briga das tendências que dominam o partido. Tanto é que o ministro Tarso Genro não pertence ao Campo Majoritário (reunião de tendências que apóiam integralmente o governo). "A idéia era manter o José Genoino, mas aí apareceu essa história do assessor com a mala de dinheiro e dólares na cueca."