Título: Deflação continua, mas em ritmo menor
Autor: Francisco Carlos de AssisAlessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

IPC-Fipe da 1.ª quadrissemana deste mês fica em - 0,13%

Duas pesquisas divulgadas ontem mostram que os índices de inflação continuam a registrar variações negativas de preços neste início de mês, porém em ritmo menor que no período anterior. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), apurado na cidade de São Paulo pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), fechou a primeira quadrissemana de julho com deflação de 0,13%, depois de registrar queda de 0,20% no mês passado. No primeiro decêndio de julho, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), pesquisado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), de abrangência nacional, teve variação negativa de 0,09%, frente a uma deflação de 0,30% no mesmo período de junho. Apesar da desaceleração no ritmo de queda dos preços, esses resultados reforçam os argumentos de especialistas para a retomada da política de corte do juro básico já na reunião de terça e quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC).

No IPC-Fipe, o recuo foi causado pela queda dos preços da Alimentação, único grupo de bens e serviços a registrar deflação na primeira prévia de julho. A variação foi de -1,43%, frente -1,39% no fechamento do mês passado. Já o grupo Saúde foi o que mais pressionou o índice para cima, com alta de 0,73%.

O núcleo do IPC-Fipe (indicador de tendência) manteve a mesma variação de 0,23% registrada no fechamento do mês passado, mesmo com o índice geral tendo mostrado uma perda de força na trajetória de queda. O mesmo ocorreu com o conjunto de preços administrados, que ficou em 0,28%. Os preços industrializados ficaram praticamente estáveis, passando de uma variação zero no fechamento do IPC em junho para 0,07% na primeira quadrissemana deste mês.

Para o coordenador adjunto do IPC-Fipe, Juarez Rizzieri, o índice deverá fechar o mês com variação em torno de zero, com viés ligeiramente positivo. Na avaliação de Rizzieri, o IPC deverá fechar o ano dentro da meta de 5,1% estabelecida para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro da Geografia e Estatística (IBGE), que orienta o regime de metas de inflação. "A combinação de um reajuste menor dos preços administrados com o câmbio baixo fará com que a taxa nominal de juros exerça um efeito maior sobre os preços."

ATACADO

No IGP-M, a deflação desacelerou devido à perda de força na queda dos preços no atacado, setor influenciado por aumentos de cotações de matérias-primas de peso, como soja (4,29%), milho (2,74%) e bovinos (0,41%). Os período de coleta de preços foi de 21 a 30 de junho.

Para o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, saber se vai ocorrer deflação no fechamento IGP-M de julho não é o mais importante. Na avaliação dele, atualmente, o desenho do comportamento do indicador é "para cima, com intensidade moderada" devido à perda de força do processo deflacionário,o que já era esperado.

O economista já comentara que processos de deflação prolongados normalmente são indicativos de recessão, o que não é o caso do Brasil. "O efeito benéfico do câmbio, que há meses tem puxado para baixo preços de insumos industriais, já está enfraquecendo", disse. "Além disso, estamos vendo um processo de aceleração nos preços das matérias-primas agropecuárias, que começam a apresentar quedas menos intensas". Com esse cenário, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-M, passou de -0,79% para -0,23% de junho para julho, influenciado pela queda menos intensa nos preços das matérias-primas brutas (de -2,09% para -0,17%). Na inflação do atacado, o técnico alertou para um detalhe importante: os preços dos alimentos processados passaram de queda de 2,27% para alta de 0,75%, da primeira prévia do IGP-M de junho para igual prévia em julho. "Isso é muito importante, pois é um fator que vai impactar os preços no varejo, no futuro".

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 30% do IGP-M, subiu apenas 0,02% na prévia de julho, ante alta de 0,08% em igual prévia em junho - o menor patamar desde outubro de 2004. Já o Índice Nacional do Custo da Construção passou de 2,10% para 0,58% de junho para julho.