Título: MP apura denúncia de propina da Firjan ao PT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Nacional, p. A9

O Ministério Público Federal está investigando acusações de que a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) pagaria propina ao PT para que as empresas fluminenses não fossem fiscalizadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A apuração se baseia em conversa telefônica gravada em agosto do ano passado pela Polícia Federal, com autorização judicial, revelada ontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Na conversa, a então presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais do Rio de Janeiro (Sinsera), Maria Auxiliadora de Vasconcellos, diz que o ex-ministro Amir Lando lhe relatou um esquema em que a Firjan pagaria propina ao PT. Maria Auxiliadora foi presa em 6 de maio pela PF, acusada de dar suporte a uma quadrilha de 13 fiscais do INSS que praticavam extorsão contra empresas do Estado. O esquema, segundo a PF, teria causado um rombo de R$ 3 bilhões na Previdência Social. Auxiliadora sozinha, calcula a PF, causou prejuízos de R$ 9 milhões excluindo débitos inscritos de nove empresas em troca de propinas.

MONOSSÍLABOS

Na gravação exibida pelo JN, Auxiliadora fala quase todo o tempo com outra auditora, Maria Teresa Alves, que responde apenas com monossílabos. Auxiliadora relata, com aparente surpresa, que o ministro Amir Lando lhe contara ter recebido ordens do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, para afrouxar a fiscalização: "Aí foi que ele disse, 'olha, na realidade, o que acontece é o seguinte. Eu, no Rio de Janeiro, não vou mexer no Rio porque eu me comprometi a não mexer no Rio de Janeiro. O Rio tem um contrato com a Firjan... Abriu o jogo, ele mesmo abriu o jogo. 'A Firjan dá uma mensalidade, dá não sei quê, e quem vai buscar é o Delúbio de Souza, sei lá, Soares...".

Na fita, ela amplia as acusações, afirmando que o esquema teria sido montado ainda no governo passado, quando o Ministério da Previdência era ocupado por Waldeck Ornellas - e foi mantido depois por José Cechin. Ornellas ontem rechaçou as denúncias: "O meu período no ministério é marcado pelo combate firme e rigoroso à corrupção e à fraude na Previdência Social", afirmou.

Na reportagem exibida pelo Jornal Nacional, o ex-ministro Amir Lando também negou as acusações. "O (então) ministro José Dirceu jamais determinou que não se fiscalizasse o Rio de Janeiro", assegurou Lando. "Pelo contrário, nós recebemos denúncias de que as 500 maiores empresas do Rio de Janeiro não eram fiscalizadas há mais de dez anos", disse. Ele acrescentou que na sua gestão foram criados mais órgãos que melhoraram a forma de arrecadação da Previdência Social.

ESPECULAÇÕES

A Firjan emitiu ontem nota em que afirma desconhecer o esquema de propina mencionado por Maria Auxiliadora e garante que jamais se reuniu com o ex-ministro Amir Lando e com Delúbio Soares. Também em nota, o deputado José Dirceu disse que as acusações são infundadas. Advogados de Delúbio Soares afirmaram que ele desconhece as denúncias.

Nos últimos dias, cresceram as especulações de que o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, seria convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar o Ministério da Previdência ou o das Cidades. Gouvêa Vieira está na comitiva do presidente Lula em Paris, a partir de hoje.

GRAVAÇÕES

Não foi a primeira vez que Maria Auxiliadora acusou a Firjan. Em maio, ao ter sua prisão preventiva pedida pelo Ministério Público Federal, por corrupção passiva, ela afirmava, em gravações de diálogos com cúmplices, que pessoas ligadas à Firjan lhe indicavam empresas dispostas a pagar aos auditores para não serem fiscalizadas.

Em outra gravação feita pela Polícia Federal, ela dizia existir uma "caixinha da Firjan" para pagar uma "mensalidade" aos auditores corruptos. À época a Polícia Federal calculou que, sozinha, Maria Auxiliadora teria dado ao INSS um prejuízo de pelo menos R$ 9 milhões, referentes a débitos de nove empresas que ela apagou do registro de multas do INSS.