Título: PT não deve temer investigações 'dentro de casa', diz Lula
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que as investigações "dentro de casa" não devem ser temidas, em alusão às denúncias de corrupção no governo e em seu partido, o PT. Relembrando velhos tempos de sindicalistas, Lula discursou numa espécie de assembléia sindical improvisada no Palácio do Planalto. "No meio do caminho, sempre alguém pode cometer desvios, erros e desacertos. Isso acontece na nossa própria família, na vila em que a gente mora, na rua ou cidade", lamentou. Na semana passada, as denúncias atingiram até o filho mais velho do presidente, Fábio Luiz, de 28 anos, acusado de usar o prestígio do sobrenome para garantir sociedade com a Telemar em produtora de games. Ao discursar para 850 sindicalistas no Salão Nobre do Planalto, Lula comparou o impacto da crise política ao drama vivido pelo ex-jogador de futebol Pelé, que chorou ao ver o filho Edinho preso por envolvimento com o tráfico de drogas.

Lula contou que telefonou para Pelé para manifestar apoio. "Uma figura extraordinária e excepcional como o Pelé de repente vê a notícia de que o seu filho está envolvido nessa coisa de tráfico e chora tanto quanto ele chorou na televisão", disse.

Numa brincadeira, Lula lembrou que Pelé fez muitos gols contra seu time, o Corinthians, mas mereceu solidariedade. "Estou dizendo isso porque todo mundo tem acompanhado denúncias contra o PT, contra outras pessoas, e tenho dito: o PT deve dar exemplo. O bom exemplo vem de dentro de casa. Se alguém cometeu erro no partido, tem de pagar."

O presidente retribuiu o apoio dos "companheiros" sindicalistas e deixou claro que vai brigar pelo mandato. "Este país eu não abro mão de construir. Eu sei o quanto foi duro chegar aonde chegamos. Eu sei quantas lutas", afirmou. "Cabe ao PT, que nasceu num momento histórico, ter um gesto exemplar de não ter medo de investigar a própria casa."

IMPRENSA LIVRE

Lula não escondeu a preocupação com a repercussão no exterior. Ao falar sobre o trabalho da imprensa e do Congresso, Lula disse esperar que todos tenham responsabilidade. "Ao mesmo tempo em que a gente vê a imprensa fazer coisas de que não gosta, muitas vezes aquilo que a gente não gosta pode ser a referência para saber se aquilo aconteceu ou não", disse. "Nunca fui de falar bem ou mal da imprensa, quero que ela seja livre e possa dizer o que bem entender."