Título: Vacina chinesa contra a aids entra em fase de testes clínicos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2005, Vida&, p. A18

PEQUIM - Uma equipe de cientistas chineses iniciou os testes clínicos de uma vacina contra a aids, que poderia ajudar a evitar o contágio do vírus de imunodeficiência humana (HIV) a um preço acessível, informou ontem a imprensa local. "Normalmente, o vírus invade o corpo humano fundindo a membrana das células. A chave é proteger a entrada e evitar a fusão da membrana", declarou Gao Fu, chefe do instituto de pesquisa microbiológica da Academia da China de Ciências, em um fórum sobre remédios contra a aids em Pequim.

A vacina atualmente em fase de testes se concentra nas proteínas que fundem a membrana e evita que o vírus ataque as células, segundo o jornal China Daily. Os doentes de aids e os portadores do HIV teriam de fazer uso diário da vacina, acrescentou Gao Fu.

O remédio, cuja pesquisa começou há quatro anos, pertence a um novo tipo de medicamentos que inibem a fusão do HIV, cujo modelo pioneiro foi o T20 americano, registrado pela FDA (a agência americana que controla alimentos e remédios) em março 2003.

Zhou Genfa, presidente da empresa FusoGen Pharmaceuticals, reconheceu ter se inspirado no T20 para o desenvolvimento do medicamento, mas utiliza um modelo molecular distinto para sua vacina.

O remédio, que poderia estar no mercado no fim de 2006, teria um preço significativamente mais baixo que o T20, cujo custo pode chegar a US$ 20 mil por ano.

A luta contra a aids será uma das prioridades do plano de ação do governo chinês para o período de 2006 a 2010. Os esforços serão voltados especialmente para frear a extensão da epidemia do HIV, que atualmente afeta 840 mil pessoas na China, 80 mil das quais já desenvolveram a aids, segundo dados oficiais.

No entanto, organismos independentes acreditam que esses números poderiam estar subestimados, já que durante décadas a China fez vistas grossas para a doença, apontada como "mal dos estrangeiros".

EPIDEMIA

As autoridades chinesas utilizaram ontem, Dia Mundial da População, para alertar os cidadãos sobre o forte aumento de casos de aids entre as mulheres do país, em uma campanha divulgada por diversos meios de comunicação.

Médicos citados pelo China Daily assinalaram que a proporção entre homens e mulheres atingidos pelo HIV/aids passou de um caso feminino para cada cinco masculinos nos anos 90 para dois femininos, o que indica que a doença está se estendendo mais rápido entre as mulheres do que entre os homens.

Wei Jianan, subdiretor do Centro de Prevenção e Tratamento da Aids com Medicina Tradicional Chinesa, destacou que a maior parte dos contágios em mulheres nas últimas duas décadas aconteceu devido ao negócio de compra e venda ilegal de sangue ou por via sexual.

O governo alerta que muitas das mulheres chinesas ficaram infectadas no período fértil de sua vida. "Se esse grupo não recebe prevenção e controle a tempo, haverá mais bebês infectados", destaca um documento publicado pelo Ministério da Saúde.