Título: Às 16h51, o Discovery parte para a História
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Vida&, p. A18

É uma das missões mais importantes para a Nasa. Em jogo, o seu futuro e o da ISS

Começa hoje uma das missões mais importantes da história da exploração espacial. Se o tempo permitir, e tudo mais correr dentro do planejado, o ônibus espacial Discovery deverá partir do Cabo Canaveral, na Flórida, às exatas 16h51 (horário de Brasília). No compartimento de carga, 15 toneladas de suprimentos e equipamentos destinados à Estação Espacial Internacional (ISS). E, nos ombros, a responsabilidade de fazer um vôo perfeito. Será o primeiro lançamento de um ônibus espacial em mais de dois anos, desde o acidente do Columbia, no qual morreram sete astronautas. O shuttle se desmantelou sobre o céu do Texas no dia 1º de fevereiro de 2003, quando uma rachadura na carapaça de isolamento térmico permitiu que gás superaquecido penetrasse na estrutura da nave durante a reentrada na atmosfera. A brecha foi causada por uma placa de espuma, de aproximadamente meio quilo, que se desprendeu do tanque externo de combustível durante o lançamento e atingiu a asa esquerda.

O impacto foi detectado pelos técnicos da Nasa, mas descartado como irrelevante para a segurança da nave. Após o acidente, um longo processo de investigação foi realizado. E mais de US$ 1 bilhão foram gastos para tornar mais seguros os três shuttles remanescentes: Discovery, Endeavor e Atlantis.

O lançamento de hoje será o primeiro teste. E a responsabilidade cabe pela segunda vez ao Discovery, que também fez o vôo de retorno após a explosão do Challenger, em 1988. Um novo acidente poderá significar o fim do programa de ônibus espaciais e comprometer significativamente a construção da ISS - um projeto de US$ 100 bilhões - já que os são as únicas espaçonaves capazes de transportar os módulos restantes até a estação.

Ontem à noite, já o primeiro susto: a cobertura de proteção de uma das janelas da cabine se soltou e danificou uma das placas de proteção térmica da cauda do Discovery. Mas a Nasa disse que consertaria o dano a tempo para a decolagem.

"Este vôo abre um novo capítulo da exploração espacial", disse a comandante da missão, Eileen Collins. "Estamos fazendo o que precisamos fazer como seres humanos, que é explorar. Ao explorar, continuamos a fazer este mundo um lugar melhor para viver e continuamos a evoluir como espécie humana."

MAIS SEGURANÇA

Muitas modificações foram feitas para permitir o retorno dos ônibus espaciais ao espaço. Entre elas, uma extensão para o braço robótico de carga, que permitirá inspecionar a fuselagem inferior da nave no espaço. A placas de carbono que protegem o nariz e as bordas das asas foram reforçadas. Câmeras espalhadas pela espaçonave e em terra deverão monitorar o lançamento de todos os ângulos possíveis. E a peça de espuma que condenou o Columbia foi removida. Sua função foi substituída por aquecedores elétricos, para evitar a formação de gelo no exterior do tanque.

Caso algum problema seja detectado, a tripulação poderá tentar remediá-lo em órbita ou refugiar-se na ISS até que uma operação de resgate possa ser organizada. Das 15 principais recomendações feitas pelo comitê de investigação, 3 não foram atendidas. Ainda assim, o administrador da Nasa, Michael Griffin, disse que o Discovery é tão seguro quanto possível. "Se alguém quiser mais do que isso, terá de encontrar seres humanos mais inteligentes."