Título: Prisão é "Uma aberração jurídica inominável", afirma advogado de empresária
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Metrópole, p. C1

"Uma aberração jurídica inominável." Assim o advogado Rui Celso Reali Fragoso definiu ontem a prisão temporária de sua cliente, a empresária Eliana Tranchesi, dona da Daslu. "Há apenas uma investigação. É uma detenção sem inquérito policial. Primeiro (a PF) detém para depois fazer a prova." Segundo o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, também contratado por Eliana, a prisão é uma medida excepcional usada quando há perigo de que o suspeito prejudique a investigação. "Poderia ser feita uma averiguação de maneira documental. Se tivessem intimado, ela teria ido", disse Fragoso. "Nesse caso, não há risco porque, além das prisões, fizeram busca e apreensão dos documentos. Mesmo que quisessem (os sócios) subtrair documentos, eles estariam com o Ministério Público Federal", completou Mariz.

Segundo Fragoso, as atividades da Daslu são regulares. "A Daslu não faz importações diretamente, mas adquire matérias nacionalizadas. Ou seja, uma empresa importa e vende para Daslu." Ele negou que Eliana tenha empresas no exterior e no Brasil para fazer a importação. "Não há nada que possa ser escondido. Ela está tranqüila."

Em nota, a Fiesp declarou que "todos gozam de presunção de inocência" e afirmou que é inadmissível alguém ser preso sem culpa evidenciada e de modo extravagante, "como um espetáculo pirotécnico".

Para Mariz, a atuação dos agentes confirma seu "antigo temor da escalada do arbítrio". "Há um desrespeito à lei por parte da PF e da magistratura. Os juízes não estão verificando a existência de justa causa para expedir mandados e decretar prisões." O criminalista disse não saber o motivo dessa conduta, mas sente um clima punitivo. "A ação parece ideológica, para mostrar que os ricos também vão para cadeia."

O advogado disse não acreditar na versão de que a operação foi deflagrada para desviar a atenção das denúncias sobre o mensalão. "O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é um homem sério."