Título: Crédito puxa reação no comércio
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

Estimuladas pelo acesso facilitado dos consumidores ao crédito, as vendas do comércio varejista reagiram em maio e voltaram a crescer na comparação com as do mês anterior. Houve acréscimo de 0,40% na comparação com abril - após uma queda de 0,24% em abril em relação a março - e aumento de 2,67% nas vendas ante maio do ano passado. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, mostram que o varejo "está saindo da estagnação para uma velocidade de cruzeiro".

O gerente da pesquisa de comércio do IBGE, Reinaldo Pereira, destacou o papel "predominante" do crédito no desempenho do comércio em maio. O segmento de móveis e eletrodomésticos, com forte peso na pesquisa, apresentou - também com impacto direto do crédito - crescimento de 2,08% ante abril e de 18,3% ante maio do ano passado.

"O aumento (das vendas do comércio) ante maio do ano passado foi muito influenciado pelo segmento de móveis e eletrodomésticos, ainda puxado pelo crédito e novidades como empréstimo consignado e aumento no número de prestações", disse Pereira.

Segundo ele, o fator preponderante para o aumento das vendas em maio foi o crédito. O crescimento de maio foi o 18º consecutivo do setor ante igual mês do ano anterior.

Thadeu de Freitas sublinhou que o índice de média móvel trimestral do varejo, considerado o principal indicador de tendência, mostrou que o trimestre encerrado em maio esteve 0,51% acima do terminado em abril, que, por sua vez, havia registrado queda de 0,12% em relação ao trimestre finalizado em março. "O comércio estava estagnado e agora, apesar de não dar sinal de muita vitalidade, está em trajetória melhor", observou o economista da Confederação Nacional do Comércio.

Para ele, as perspectivas para o comércio são boas porque a inflação está em queda - o que aumentará a renda real dos trabalhadores -, a política fiscal será "mais expansionista" no segundo semestre deste ano e os juros básicos da economia (taxa Selic, fixada mensalmente pelo Banco Central) deverão reiniciar logo a trajetória de queda.

O economista da CNC avalia que apenas o alto nível de endividamento dos consumidores pode trazer algum problema para o varejo, mas, como as dívidas estão sendo roladas, o crédito deverá prosseguir como estímulo para o consumo, como ocorreu em maio.

SEM CRISE

Questionado se a crise política decorrente do escândalo do mensalão e dos Correios não poderá comprometer a demanda interna, Thadeu de Freitas disse que "há tanta liquidez no mercado" que o consumo não será afetado.

Ele estima que o comércio varejista fechará 2005 com crescimento nas vendas de 4% a 4,5% ante o ano passado. De janeiro a maio deste ano, o aumento foi de 4,51% e em 12 meses, de 7,52%.

Pereira, do IBGE, prefere ser mais cauteloso e não antever os novos movimentos do comércio. Ele admite que as taxas de crescimento do setor estão desacelerando, já que a base de comparação do ano passado é muito elevada, e vê um quadro de estabilidade para o setor no momento. "Temos que esperar mais meses para checar se a desaceleração é uma inflexão ou haverá um novo ciclo de aceleração", disse.