Título: Comissão convoca Félix e ex-diretor da agência
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A4

A CPI dos Correios decidiu ontem convocar o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Jorge Félix, e Mauro Marcelo de Lima e Silva, antes de ele, no final da noite, deixar a direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O comando da CPI quer explicações sobre as declarações dadas por Mauro Marcelo, em e-mail interno da Abin, em que chama os integrantes da CPI de "bestas-feras em pleno picadeiro". Com seu e-mail, Mauro Marcelo acabou arrastando seu chefe, o general Félix. A CPI também quer explicações do general sobre participação da Abin em gravações envolvendo irregularidades nos Correios. No depoimento do ex-presidente dos Correios Airton Dipp, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), foi à sala de sessões e pediu licença para ler o e-mail de Mauro de Marcelo, obtido no sistema interno de comunicação (intranet) da Abin. A nota deixou senadores e deputados indignados. No e-mail, Mauro Marcelo mostrava-se revoltado com o envolvimento da Abin no caso dos Correios. Segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), a Abin estaria investigando clandestinamente possível esquema de corrupção na estatal.

Mauro Marcelo diz que tentou evitar de todas as formas que o agente da Abin Edgar Lange fosse à CPI, mas não conseguiu. O diretor-geral demissionário elogiou o desempenho do funcionário na comissão mista de investigação. "Neste exato momento, o que devo fazer é elogiar a conduta do profissional Lange, como um verdadeiro herói ao enfrentar as bestas-feras em pleno picadeiro", diz a nota de Mauro Marcelo.

O e-mail critica a "falta de empenho da AGU (Advocacia Geral da União) na proteção do nosso servidor". E começa dizendo que "há mais de um mês acompanhamos com perplexidade o envolvimento do nome da Abin como caso dos Correios". Noutro momento, afirma: "Os estragos à atividade profissional do Lange, mais os estragos à nossa reputação, só poderão ser avaliados com o tempo."

Revoltados com o e-mail de Mauro Marcelo, os integrantes da CPI decidiram convocá-lo a depor, mas a proposta ainda terá de ser votada.

Logo depois da leitura da nota, o deputado petista Carlos Abicalil levantou dúvidas sobre a autenticidade do texto, pois Rodrigo Maia levou uma cópia. Pouco tempo depois, porém, o vice-presidente da CPI, Maguito Vilela (PMDB-GO), que presidia a sessão, disse ter recebido por telefone a informação do general Jorge Félix, de que o texto era autêntico. A CPI encaminhou então um pedido a Félix para que seja enviado à comissão um documento por escrito certificando a autenticidade da nota.