Título: Gushiken influía nos Correios, diz ex-presidente
Autor: Luciana Nunes Leal e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A6

Presidente dos Correios entre fevereiro e dezembro de 2003, primeiro ano do governo Lula, o ex-deputado Airton Dipp (PDT) deixou clara ontem a influência da Secretaria de Comunicação de Governo, comandada por Luiz Gushiken, nas decisões sobre publicidade e patrocínio das estatais. Segundo ele, a comissão de licitação que escolheu as novas agências de propaganda dos Correios, no fim de 2003, era formada por 5 pessoas, 3 delas indicadas pela Secom e 2, pelos Correios. "Todas as estatais, coordenadas pela Secom, se juntaram para obter valores menores nos contratos com agências de publicidade. Nos Correios, optamos por nova licitação. A Secom sugeriu que a comissão de licitação fosse mista, com representantes da Secom e dos Correios, e a sugestão foi aceita. Não diria que a Secom comandou a licitação. Fez sugestões e elas foram aceitas", disse Dipp, em depoimento na CPI dos Correios. Segundo ele, a Secom fez "sugestões pontuais" de mudanças no edital.

Dipp sustenta, porém, que as mudanças não favoreceram nenhum concorrente. Entre as 3 vencedores da licitação de 2003, com validade para 2004, está a SMPB, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão.

Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, denunciou que, antes de o resultado da licitação ser divulgado, já estava preparada uma festa na SMPB para comemorar o contrato. Dipp negou qualquer favorecimento prévio à SMPB e disse jamais ter conversado com Valério. Afirmou, ainda, não saber que um dos integrantes da comissão de licitação indicados pela Secom era casado com uma executiva da Multiaction, que pertence a Valério.

Dipp informou, também, que qualquer patrocínio com valor acima de R$ 50 mil tinha de passar pelo crivo da Secom.

VISITA

Dipp revelou ontem que, como presidente dos Correios, encontrou-se duas vezes com o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Afirmou que ele o "visitou" nos Correios e trataram "sobre solicitação do PT em vários municípios em relação a demandas políticas e sobre questões menores dos Correios".

Atual prefeito de Passo Fundo, Dipp deixou os Correios quando o PDT rompeu com o governo. Garantiu que não teve notícia de fraudes no período em que comandou a estatal.