Título: Delúbio confirma que Valério fez ponte entre Opportunity e PT
Autor: Vera Rosa e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A8

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de Castro confirmou à Polícia Federal que o publicitário Marcos Valério de Souza - apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do pagamento do mensalão - intermediou a aproximação do grupo Opportunity com o seu partido. No depoimento a portas fechadas na sexta-feira, em São Paulo, Delúbio disse que num encontro entre ele, Valério e Carlos Rotenburgo, do Opportunity, o empresário solicitou uma ponte com o PT para "melhorar a imagem do grupo (...) junto ao partido". Delúbio disse que Robenburgo "não fez qualquer pedido ou solicitação" a ele. No governo, porém, é voz corrente que o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, tinha Delúbio e o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, como aliados. Mas os interesses do Opportunity nos fundos de pensão foram contrariados pelo secretário de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, que chegou até mesmo a ser espionado pela Kroll. Hoje, Dantas é inimigo do governo e do PT.

Na reunião do diretório nacional do PT, no fim de semana, um dirigente do partido chegou a suspeitar que Dantas estivesse por trás da denúncia que resultou na prisão de José Adalberto Vieira da Silva, ex-assessor do deputado cearense José Nobre Guimarães, irmão do ex-presidente do PT, José Genoino. "Imagine, o Carlinhos (Rotenburgo) não deixaria ele fazer isso", respondeu Delúbio, segundo participantes daquela reunião.

Agora, no clima de desconfiança que tomou conta do PT, dirigentes do partido dizem que o próprio Delúbio pode ter denunciado Silva, na tentativa de derrubar Genoino. Ele nega.

À Polícia Federal, Delúbio também disse que fez amizade com Valério e era comum ele apresentar-lhe outras pessoas. O homem que hoje é apontado como responsável pela destruição da imagem do PT - com impacto direto sobre o governo Lula - já foi uma espécie de consultor do partido. No depoimento, Delúbio declarou que "sempre discutia com Valério a respeito da imagem do PT perante a sociedade".

Foi o publicitário, de acordo com Delúbio, que também organizou uma visita dele e de Genoino à Usiminas. "Foi aí que eu conheci Valério", afirmou ontem Genoino. Delúbio disse desconhecer "qualquer privilégio recebido por Valério nas disputas e concorrências que o mesmo participou junto a órgãos vinculados ao governo federal".

EMPRÉSTIMOS

Delúbio afirmou ao delegado Luís Zampronha que a direção do PT sabia dos empréstimos negociados por ele para cobrir o saldo negativo da conta do partido, da ordem de R$ 20 milhões. Segundo ele, Genoino concordou que fosse obtido o empréstimo (com o banco BMG, no valor de R$ 2,4 milhões), "mas não teve nenhuma participação na escolha do avalista ou da instituição financeira que iria conceder o crédito".

O ex-tesoureiro do PT admitiu que os dirigentes do BMG lhe foram apresentados por Valério. "Realmente o PT deixou de saldar uma das parcelas do empréstimo, acarretando a responsabilidade do avalista", disse. O empréstimo tomado no BMG foi feito "para cobrir um saldo negativo" decorrente de despesas efetuadas pelo PT na transição do governo e na cerimônia de posse do presidente Lula. Segundo Delúbio Soares, o BMG "apresentou as melhores condições de taxa dentre os bancos pesquisados".

Um dos avalistas foi Valério, que, em julho de 2004, saldou uma prestação no valor de R$ 350 mil, referente a taxa de juros cobrada em contrato. Delúbio contou que pediu a Valério para ser o avalista porque ele possuía o "patrimônio necessário" para dar garantia à operação. O ex-tesoureiro declarou à Polícia Federal que possui como patrimônio "uma conta bancária no valor de R$ 163 mil".

"O pagamento da parcela de juros por Valério não foi contabilizado junto ao Tribunal Superior Eleitoral", revelou Delúbio. Ao delegado, ele também confirmou outro empréstimo para o PT, desta vez de R$ 3 milhões, junto ao Banco Rural. O financiamento foi feito em maio de 2003, também com o aval de Valério.