Título: Telemar terá de explicar sociedade com filho de Lula
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A10

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pediu explicações à Telemar sobre os investimentos de R$ 5 milhões feitos no início do ano pela operadora de telefonia na Gamecorp, empresa na qual a Telemar tem sociedade com Fábio Luis Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No ofício, a autarquia questiona o fato de a Telemar não ter divulgado ao mercado financeiro a decisão da assembléia da companhia que aprovou aquele investimento. Pela Lei das Sociedades Anônimas, lembra a CVM, qualquer deliberação que influencie terceiros deve constar em ata da reunião a ser registrada em junta comercial. Ela cita, como exemplos, a celebração de acordos e decisões de investimentos.

Em resposta à CVM, no início da noite, a Telemar explica que não divulgou o investimento por considerá-lo assunto de "cunho operacional e estratégico" da empresa. A operadora lembra que o valor investido representa apenas 0,01% do faturamento anual da operadora. Além disso, a Telemar alegou que só comunica à CVM decisões do seu conselho de administração quando é cobrada pelo órgão fiscalizador.

A associação da operadora com a Gamecorp vem sendo alvo de denúncia de favorecimento político. A Telemar se defende dizendo que de junho a setembro de 2004, durante o processo de concorrência para a criação da produtora de games, não sabia da participação do filho de Lula no processo. A descoberta só ocorreu após a Telemar ter vencido a disputa, quando começou a ser preparado o memorando de intenção entre os sócios.

Os sócios já haviam revelado, de fato, que durante as negociações havia uma cláusula de confidencialidade, à qual recorreu a empresa de consultoria Trevisan, enquanto buscava no mercado um parceiro para a Gamecorp. Por essa cláusula, não seriam revelados os nomes dos seus donos. No entanto, segundo a Trevisan, essa confidencialidade só foi mantida durante o período em que se preparou uma proposta formal de parceria. Depois disso, até a assinatura dos contratos - um período de aproximadamente quatro meses - a informação sobre a presença do filho de Lula entre os sócios da Gamecorp já era do conhecimento da Telemar.

NOTAS

Em nota divulgada na semana passada, a Telemar informou que as parcerias feitas com a Gamecorp e com outras produtoras de conteúdo multimídia fazem parte de sua estratégia de negócios - ela é uma operadora integrada para serviços viabilizados por tecnologias digitais.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que participa do gurpo que controla a Telemar, também havia divulgado uma nota explicando o porquê do investimento na produtora de games. O banco contesta as denúncias de favorecimento político lembrando, assim como a Telemar, que o valor questionado representa apenas 0,01% do faturamento anual da operadora. Além disso, informou que o caso não merecia análise prévia do BNDES que, por isso, não chegou a ser consultada.

A Gamecorp foi criada em dezembro de 2004 com capital de R$ 5,2 milhões, dos quais R$ 5 milhões da Telemar. A operadora tem 35% das ações. A holding BR4, que só investiu R$ 200 mil, detém os outros 65%, que pertencem ao filho de Lula e a Richard Dubois, Kalil Bittar e Leonardo Eid. A história do negócio, porém, data de dezembro de 2003, quando foi criada a empresa G4, com capital de R$ 100 mil (ainda por ser integralizados). Em dezembro de 2004, a G4 fundiu-se com a Espaço Digital, sendo criada a BR4, com capital de R$ 2,7 milhões (R$ 2,5 milhões eram da Telemar). Recentemente, a Telemar entrou com os outros R$ 2,5 milhões, comprando debêntures da nova empresa, a Gamecorp.