Título: CPI quebra sigilo de Waldomiro
Autor: Rosa Costa e Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A11

O ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, que assessorava do ex-ministro da Casa Civil deputado José Dirceu (PT-SP), teve seu sigilo bancário, telefônico e fiscal quebrado por decisão da CPI dos Bingos, depois de requerimento apresentado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Será a segunda vez que ele terá as contas abertas a pedido de uma comissão parlamentar de inquérito. A CPI da Loterj, na Assembléia do Rio de Janeiro, já tinha feito uma devassa em suas contas. O empresário do setor de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse ontem durante depoimento que abriu a CPI dos Bingos que Waldomiro Diniz, na época em que presidia a Loterj, tinha por praxe lhe pedir propinas de R$ 100 mil ou R$ 200 mil toda vez que os dois conversavam. Cachoeira garantiu nunca ter pago e admitiu ter continuado a conversar com Waldomiro depois que ele assumiu a Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência da República.

"Ele era subchefe da Casa Civil, como é que eu não ia atender um homem desse?", indagou. Várias vezes, Cachoeira se referiu ao ex-servidor do Planalto como "uma pessoa dissimulada". "Era um homem poderoso, pulou de governo para governo na Loterj." Cachoeira afirmou que não teve como recusar um pedido de Waldomiro para intermediar um encontro com os dirigentes da multinacional GTech, em 13 de fevereiro de 2003, quando a empresa estava negociando a renovação do seu contrato para operar o sistema de loterias da Caixa Econômica Federal. O empresário do jogo alegou ter feito a aproximação por causa da parceria que mantinha com a GTech na Loteria do Estado de Goiás e negou ter interesse em negócios com a Caixa Econômica Federal. No depoimento à CPI, o empresário de jogos foi questionado pelo senador Leonel Pavan (PSDB-SC) sobre um encontro que teria mantido com Waldomiro na sede da Caixa. Segundo Pavan, a informação foi prestada pela chefe de segurança da instituição, Antônia Freitas de Castro, num dos inquéritos da Polícia Federal.

"Não sei do que se trata", respondeu Cachoeira. Para o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), as contradições do depoente sobre sua ligação com Waldomiro evidenciam que o empresário mentiu à comissão. "A impressão que eu tenho é que eles tinham uma negociação".

A CPI dos Bingos deixou para a próxima semana a apreciação de requerimento de convocação do ex-ministro José Dirceu, também apresentado por Álvaro Dias. Em encontro que teve na tarde de terça-feira com dois senadores petistas da CPI, Flávio Arns (PR) e Fátima Cleide (RO), Dirceu afirmou estar à disposição da comissão.

"O ex-ministro disse que não tinha nada a temer e que não fazia restrição à investigação", disse Arns. Dirceu também ligou para senadores de outros partidos, entre eles Romeu Tuma (PFL-SP). Na semana passada, porém, em encontro com o relator Garibaldi Alves, no gabinete do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), Dirceu disse que não há motivos para ele ser investigado pela comissão porque ele teria sido citado apenas vagamente na CPI da Loterj.

No entender de Álvaro Dias, a CPI dos Bingos não cumprirá, porém, suas finalidades se Dirceu não for convocado. Ele classificou de "inócua" a tentativa de Cachoeira de limitar a Waldomiro a responsabilidade pelos achaques na Loterj. No depoimento à CPI, o empresário disse, várias vezes, que tinha a convicção de que o ex-subchefe da Casa Civil pedia propina para ele próprio.

O senador Magno Malta (PL-ES), autor do requerimento de criação da CPI, não acredita nessa versão. "Só não ficou claro quem estava por trás do Waldomiro. Nenhum de nós está disposto a fazer papel de tolo", disse Malta.

"Não acredito nesse depoimento. A denúncia sobre o Waldomiro é começo de tudo que está ocorrendo por aí e do pagamento do mensalão", completou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).