Título: Escândalos ganham espaço na imprensa francesa
Autor: Cida Fontes e João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A12

Os jornais franceses, que até agora vinham tratando discretamente a crise brasileira, decidiram abrir suas páginas para a série de denúncias no dia do desembarque do presidente Lula em Paris. O vespertino Le Monde publicou ontem chamada de primeira página com o título "Paris acolhe Lula fragilizado e festeja a cultura brasileira". "A experiência Lula no Brasil está comprometida por casos de corrupção", diz, citando declaração do presidente do PT, Tarso Genro: "O messianismo nos levou a crer que éramos diferentes e o PT detinha o monopólio da virtude, cujo único resultado foi o afrouxamento dos controles internos." Afirma que "o campeão da luta contra a fome no mundo chega à França no momento em que seu prestígio foi danificado no próprio país" e cita as acusações. Para o Le Monde, "a imensa esperança social suscitada por um presidente de esquerda sofre o choque das realidades."

O principal jornal econômico francês, Les Echos, diz que Lula "enfrenta sua crise mais grave, envolvido num turbilhão de corrupção". "Depois de perder seu ministro mais importante, José Dirceu, e o próprio presidente de seu partido, José Genoino, novos escândalos surgem todos os dias e, mesmo afirmando que não tem intenção de proteger ninguém, o presidente já perdeu o magistério moral sobre a classe política", afirma.

"Há os que acreditam que o presidente sabia dos casos de corrupção e os que continuam convencidos de que ele é honesto e vítima de um complô para desestabilizá-lo." Essa ambigüidade, segundo o jornal, "persiste mesmo Lula prometendo esclarecer e punir os responsáveis, única forma de disputar com êxito a reeleição em 2006".

As relações econômicas com a Europa e, especialmente com a França, não parecem afetadas. O mesmo jornal afirma que, "exceto o contencioso sobre a agricultura, Paris e Brasília encontram-se numa mesma linha sobre ajuda ao desenvolvimento". O Brasil é apresentado como o "convidado de honra" no meio empresarial francês, um país atraente a investimentos ao lado de China e Índia. Esses investidores acompanham a crise política e temem que, se não for contornada, essa boa relação poderá se deteriorar.

Le Figaro, conservador, mas simpático à política econômica do governo, afirma que chega à França um "Lula enfraquecido em Brasília, mas celebrado em Paris, homenageado neste 14 de Julho". Para o jornal, Lula vai procurar esquecer que deixou no Brasil "uma crise devastadora para saborear as honras da República francesa".