Título: Denúncias afetam PT, não o presidente, diz Touraine
Autor: Cida Fontes e João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A12

Apesar de a crise política ter ficado fora do longo discurso feito ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Universidade de Sorbonne, esteve presente nas conversas informais de acadêmicos e intelectuais presentes no evento. O sociólogo Alain Touraine, amigo pessoal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que as denúncias de corrupção são graves e põe o PT em uma situação delicada. Entretanto, acha que a imagem de Lula ainda está preservada e que o presidente conseguirá superar a crise, que ele não considera que seja de "regime", não institucional. "O Brasil é o único país em que o presidente pode ir a Porto Alegre e a Davos", observou, citando os dois pólos que representam os países ricos e pobres. "A grande força de Lula é o ponto de ligação entre o sul e o norte", disse.

O que poderia estremecer a imagem de Lula, na avaliação do sociólogo, é o fato de não ter realizado, nos últimos dois anos e meio de governo, um projeto de transformação. Isso pesa mais que as denúncias de corrupção, mesmo assim não teria nada a ver com seu prestígio internacional.

Na véspera, Alain Touraine tinha recebido uma carta do futuro presidente do PT, ministro Tarso Genro, retratando a gravidade da situação de seu partido. Ele contou também ao sociólogo que gostaria muito de continuar à frente da pasta da Educação.

Na opinião de Touraine, o episódio envolvendo o PT traz à tona o financiamento dos partidos políticos, que não é exclusivo do Brasil. Na França também os partidos foram acusados de financiamento ilegal.

Há três semanas, Touraine e Fernando Henrique se encontraram no México e, evidentemente, a situação do governo Lula foi mencionada. O ex-presidente disse, segundo o sociólogo francês, ser contra explorar a corrupção na campanha eleitoral. "Isso não sustenta uma campanha eleitoral", concluiu.

Ele não acredita também que Fernando Henrique vá se candidatar à sucessão presidencial em 2006. Além de Touraine, estava na platéia assistindo ao discurso de Lula na Sorbonne o professor Alain Rouquier, outro intelectual francês, que foi embaixador da França no Brasil durante o governo Fernando Henrique.

ACESSO LIMITADO

A viagem à França, na avaliação do Palácio do Planalto, é oportunidade para Lula se distanciar da crise política e reafirmar sua política externa, considerados um dos pontos fortes de seu governo.

Por isso, a estratégia do governo é evitar ao máximo que o presidente aborde o tema. O acesso dos jornalistas a comitiva presidencial, que já vinha sendo muito restrito nas recentes viagens internacionais, foi ainda mais limitado.