Título: Presidente critica protecionismo dos ricos
Autor: João Caminoto e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A13

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem quatro discursos para platéias diferentes em seu primeiro dia na capital francesa. Na Universidade de Sorbonne, atacou fortemente o protecionismo comercial dos países ricos e, em seguida, convidou os empresários franceses a investirem no Brasil, prometendo confiança e determinação. "O Brasil é uma democracia madura, dotada de instituições sólidas e de um ambiente seguro para investimentos de longo prazo", disse, durante almoço com os empresários. E completou: "A reversão das expectativas inflacionárias e as medidas de controle fiscal sinalizam uma trajetória consistente de queda para as taxas de juros".

Recebido calorosamente por intelectuais e empresários, o presidente disse que, hoje, "mais do que nunca, os brasileiros acreditam na democracia e nas instituições republicanas".

Na Sorbonne, depois de ler, sem interrupção, um discurso de 35 minutos, ele evitou abordar a corrupção. O professor Stéphane Monclaire, um dos organizadores do seminário "Brasil: ator global", mencionando recentes declarações da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, quis saber se a corrupção, violência e desemprego poderiam causar entraves à democracia na América Latina.

O presidente ignorou a pergunta, defendeu sua política de defesa da Venezuela e pediu atenção ao continente africano. Mas quando conclamou a comunidade internacional a ajudar na recuperação do Haiti, foi interrompido por aplausos.

Lula chegou atrasado 35 minutos à Sorbonne e não escondeu o cansaço com a viagem. Explicou que sua cabeça ainda estava com um fuso horário de cinco horas e que até hoje não perdera o medo de avião. "E tenho dificuldade de dormir no avião. Portanto, vou me segurar aqui para não ter problema de sono", disse, arrancando risos da platéia.

O presidente não se constrangeu ao criticar indiretamente a França quando falou sobre o protecionismo comercial, já que o governo francês é o principal defensor da Política Agrícola Européia, que impõe barreiras às exportações agrícolas de países em desenvolvimento.

"É intolerável que US$ 1 bilhão seja gasto cada dia em subsídios às exportações e a medidas de apoio doméstico à produção agrícola", disse Lula. "Não é humano e racional que uma vaca receba um subsídio superior à ajuda oferecida a centenas de homens e mulheres espalhados por todo o mundo."

Na Sorbonne e para os empresários franceses e brasileiros, o presidente relatou as prioridades da política externa brasileira e os avanços da economia. Segundo ele, o superávit da balança comercial brasileira deverá ficar próximo dos US$ 40 bilhões em 2005.

"Começamos a resolver nossos problemas e não ficamos mais à espera das promessas dos países desenvolvidos, que raramente são cumpridas", cobrou. Foi no encerramento do fórum franco-brasileiro, que congrega representantes de organizações não-governamentais dos dois países, o presidente ficou mais solto. Fez improvisos e citou amigos na platéia como Frei Beto e Chico Menezes.

"Tenho o orgulho de ter aberto o Planalto para os movimentos sociais da cidade e do campo", afirmou, após desfilar uma série de realizações de seu governo na área social e outras medidas populares como o microcrédito e ajuda aos agricultores e trabalhadores rurais.