Título: Juros vão cair, dizem Lula e Furlan
Autor: João Caminoto e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Nacional, p. A13

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ressaltaram ontem, em seus contatos com empresários, em Paris, que as taxas de juros no Brasil devem começar a cair neste segundo semestre, de uma forma consistente. "A reversão das expectativas inflacionárias e as medidas de controle fiscal sinalizam uma trajetória consistente de queda para as taxas de juros", disse o presidente, num almoço com cerca de cem empresários brasileiros e franceses. Furlan, em entrevista à imprensa, reforçou a previsão. "Acaba de sair uma pesquisa mostrando uma perspectiva de que a inflação anual está na faixa dos 5%, portanto dentro do alvo da meta inflacionária", disse. "Além disso, possivelmente teremos um segundo mês consecutivo de inflação em queda, o que mostra a eficácia da política monetária no combate inflacionário e sinaliza que os juros devem começar a descer a escada nesse segundo semestre, reativando a economia."

Furlan evitou comentar se a Selic, a taxa básica de juros, já poderá ser reduzida na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). "Entre o desejo e a realidade há uma enorme distância", disse. "Cabe ao Copom decidir o que será feito." O ministro, no entanto, observou que a redução da taxa de juros se fará necessária em um determinado momento. "O aperto monetário gera um desaquecimento da economia e chega um momento em que os juros precisam cair para que esse declínio seja controlado."

A exemplo de Lula, o ministro ressaltou que a economia continua tendo um bom desempenho e não é afetada pela crise política. Segundo ele, em diversos contatos que vem mantendo com empresários europeus, o clima é de confiança na economia brasileira. "Há uma convicção de que a vulnerabilidade foi reduzida e que o Brasil não é a bola da vez." Segundo um dos presentes ao almoço, representantes de empresas francesas manifestaram de uma forma geral satisfação com o desempenho da economia brasileira.

TARSO

No mesmo dia em que Lula acenou com a redução de juros, o novo presidente do PT, Tarso Genro, defendeu mudança no modelo de desenvolvimento econômico para uma melhor distribuição de renda e inclusão social, sem que isso signifique ruptura com a política adotada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Nesse momento vamos trabalhar pregando a rigidez da economia como está e, a partir disso, vamos projetar para o futuro, para outro modelo de desenvolvimento."

Na condição de presidente do PT, Tarso, que fica no Ministério da Educação até o dia 27, vai atuar em favor da adoção de um outro modelo que, na sua avaliação, só deverá realmente entrar em vigência no segundo mandato de Lula, caso ele se reeleja. "O governo tem que navegar com pequenos ajustes com está, navegando até o final do ano, até o final do atual mandato. Tocar seus projetos, aplicar seus projetos, selecionar prioridades e transitar com tranqüilidade e sem sobressaltos."

E continuou: "O PT tem a obrigação e a responsabilidade de analisar os resultados da estabilidade macroeconômica, que é a grande conquista do governo, e não fazer uma intervenção conjuntural em função da crise política. Mas fazer uma discussão interna no partido e na sociedade para a transição. Nem dentro do governo nem fora defendemos que a estabilidade macroeconômica seja um fim em si mesmo. Mas não há ninguém em sã consciência que vá fazer uma ruptura com o sistema financeiro internacional e levar o País a uma situação de isolamento e de atraso."

Em dois momentos do primeiro dia da viagem de Lula, Tarso falou sobre a mudança do modelo de desenvolvimento econômico. "Isso nós temos que discutir no partido, não para ir para cima do Palocci agora", disse, evitando, porém, falar sobre a eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele elogiou a atuação da equipe econômica, que estaria fazendo um trabalho "corajoso e muito sério".