Título: Atentado mata 24 crianças em Bagdá
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Internacional, p. A14

Crianças iraquianas foram as principais vítimas de um carro-bomba explodido ontem por um terrorista suicida num bairro pobre de maioria xiita, em Bagdá. Pelo menos 24 crianças e um soldado americano morreram quando o extremista lançou o veículo contra um comboio dos EUA, no momento em que militares distribuíam doces para dezenas de meninos. Outras 70 pessoas, incluindo 3 soldados, ficaram feridas. Esse balanço de um alto funcionário do governo, citado pela emissora britânica BBC, se refere aos corpos levados para o Hospital al-Kindi, na capital.Já na estimativa da agência France Presse, o saldo de crianças mortas é 32, porque os corpos de outras teriam sido enviados ao Hospital ibn Nagis.

O atentado de ontem foi o que matou mais crianças este ano no país. No ano passado, ataque semelhante contra blindados dos EUA deixou 41 mortos, dos quais 34 eram crianças que recebiam doces de soldados.

"O atacante agiu deliberadamente ao lançar o veículo quando os soldados tomavam parte numa ação pacífica. Sem dúvida alguma, ele viu as crianças ao redor do Humvee (blindado) no qual lançou o carro-bomba", disse o major Russ Goemaere, porta-voz das forças dos EUA. Três casas ficaram reduzidas a escombros. O ambiente era desolador. Sangue e pedaços de corpos se misturavam. Pais desesperados gritavam.

"Meu filho teve sorte. Ficou ferido por um estilhaço que se alojou na cabeça. Todos os amigos dele morreram", disse Abu Mohammed. "Que Deus amaldiçoe esses mujahedins (combatentes islâmicos)", gritava uma mãe no hospital.

Extremistas islâmicos sunitas já desfecharam vários atentados contra alvos civis xiitas e curdos, mas ações deliberadas contra crianças são raras. Não ficou claro se essa é uma nova estratégia de facções rebeldes para inviabilizar o governo iraquiano. Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado.

Na terça-feira, o líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, refutou numa mensagem na internet as críticas de seu mentor espiritual, xeque Isam Mohammad al-Barqawi. Numa entrevista à TV árabe Al-Jazira, o xeque disse na semana passada que atentados suicidas só deveriam ser realizados "se necessário, para não causar danos ao Islã". Barqawi, que foi preso depois da entrevista, declarou-se contra a matança de xiitas. Na resposta pela internet, Zarqawi defendeu os ataques aos xiitas, alegando que apóiam os "ocupantes infiéis contra os mujahedins".

Duas entidades sunitas denunciaram a morte de dez homens, incluindo um clérigo, presos por forças iraquianas. O Ministério do Interior admitiu a morte de presos sufocados num camburão. O novo governo, de maioria xiita, é acusado de abusos contra sunitas, que ocupavam o poder na era Saddam Hussein.