Título: Outra empresa de Valério registra movimentação bancária recorde
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Nacional, p. A5

Documentos enviados pelo Banco Central à CPI dos Correios mostram que a melhor fase da MultiAction, empresa de eventos de Marcos Valério Fernandes de Souza - apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão -, coincide com o governo Lula. De 2000 a 2002 a movimentação bancária da empresa foi de R$ 13 milhões. De 2003 até março deste ano, o valor mais que dobrou: R$ 28 milhões. A MultiAction teve como gerente em Brasília Telma dos Reis Mendes da Silva, mulher de Marco Antonio Silva, um dos principais assessores do secretário da Comunicação de Governo (Secom), Luiz Gushiken.

As investigações da CPI revelaram que a Secom indicou Marco Antonio para integrar a comissão julgadora da licitação dos Correios que declarou vencedora a agência de publicidade SMPB, de Valério. A CPI convocou ontem Telma a prestar depoimento. A Secom informou em nota que Marco Antonio só participou da primeira fase da licitação e deixou a equipe porque tinha de viajar.

A MultiAction costumava fazer parcerias com a SMPB e a DNA - as maiores empresas de Valério - e cuidava dos contratos menos vultosos das duas. Tanto que era muitas vezes sublocada pela DNA para serviços no governo federal, como no Banco do Brasil. De 2003 a 2005, a DNA faturou R$ 242,8 milhões no Banco do Brasil, segundo documentos da CPI.

CAMPANHA

Além disso, a MultiAction prestava costumeiramente serviços ao PT. Cuidou, por exemplo, da campanha de seu candidato oficial à presidência da Câmara em 2005, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). A tarefa custou R$ 191 mil e foi integralmente bancada pelo PT. Seu fecho foi um churrasco na casa de um filho do deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE), do qual participaram 195 convidados, entre eles o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Sílvio Pereira. Greenhalgh disse que não sabia o nome da empresa encarregada de sua campanha, porque tudo era feito pela direção nacional do PT.

Outra descoberta da CPI sobre mostra que a SMPB São Paulo movimentou R$ 16,2 milhões de 2000 a março de 2005. Ao prestar depoimento na CPI dos Correios, Valério disse que era uma empresa que não tinha movimentação bancária.

FECHADA

Surpreso ao ver que Valério não incluíra a SMPB São Paulo na relação de suas empresas, no depoimento na CPI, o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) perguntou-lhe o ocorrera. O publicitário respondeu: "Não, eu não tenho contrato lá. A empresa foi fechada."

Sobre a MultiAction, Valério disse à CPI que a empresa foi criada para fazer eventos. Cuida, por exemplo, das atividades da Fiat Automóveis, da Telemig Celular, da Mercedes-Benz, da Usiminas e da Cosipa. "No Banco do Brasil também ela faz eventos", contou. Ele se referia às atividades do Centro Cultural Banco do Brasil. Há uma sindicância interna no BB que investiga superfaturamento nos shows realizados pelo Centro Cultural.