Título: Ex-assessor do BNB é investigado
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Nacional, p. A7

O Ministério Público Federal, no Ceará, abriu investigação para apurar quais as ligações entre o petista José Adalberto Vieira da Silva e o ex-assessor especial do Banco do Nordeste (BNB) Kennedy de Moura Ramos. Vieira da Silva, que era assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT), foi preso uma semana atrás em São Paulo ao tentar embarcar em avião com R$ 200 mil em valise e US$ 100 mil na cueca. Ele foi solto anteontem à noite. O procurador Marcio Andrade Torres afirmou que quer apurar se o dinheiro encontrado com o petista pode ter relação com o BNB. "Queremos investigar se houve atuação indevida de Kennedy no banco que possa ter relação com esse dinheiro apreendido", diz Torres.

Uma das linhas de investigação da Polícia Federal é que Vieira da Silva seria um emissário de Kennedy. Ele teria viajado a São Paulo para buscar o dinheiro arrecadado com empresários beneficiados em programas de empréstimos do BNB.

Segundo declarações do deputado, foi Kennedy quem o informou, por telefone, sobre a prisão de Vieira da Silva. Kennedy ocupava até esta semana um cargo de assessor especial da presidência no BNB. Seu nome seria uma indicação de Guimarães, irmão do ex-presidente nacional do PT José Genoino.

O presidente do BNB, o petista Roberto Smith, informou que foi ele que levou Kennedy para trabalhar no banco e que foi aberta ontem comissão de sindicância para apurar se o ex-assessor cometeu irregularidades. Smith também já recebeu uma intimação da Procuradoria para disponibilizar dados sobre investigações internas do banco que envolvam Kennedy.

CÂMERAS

A PF vai requisitar as fitas das câmeras do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com as imagens do dia 8 de julho, quando Vieira da Silva foi preso. O objetivo é verificar com quem ele chegou ao aeroporto e se teve ajuda para transportar o dinheiro.

Só depois da análise desses dados, a PF avaliará se é necessário realizar perícia no cofre e nos documentos contábeis do PT. Uma outra suspeita investigada é de que Vieira da Silva teria sido apenas uma das "mulas" usadas para desovar o dinheiro, presumivelmente R$ 20 milhões, que estaria guardado no cofre do PT quando a crise atingiu a cúpula do partido.

A operação de desova, conforme essa versão, teria sido coordenada pelo então diretor financeiro do PT, Delúbio Soares, afastado do cargo na semana passada, para escapar a uma eventual operação de busca e apreensão.

Ontem o delegado da PF Hugo Brazioli Slivinski, que apura o caso em São Paulo, pediu à juíza Paula Mantovani Avelino, da 10.ª Vara Criminal da capital, que o inquérito corra sob sigilo.